I. OS PRINCÍPIOS DA HISTÓRIA. Gn 1.1-3
A majestosa linguagem da sentença inicial do livro de Gênesis indica o lugar que a Bíblia dá a Deus de princípio a fim. A revelação põe Deus no centro, e seu capítulo primeiro não apresenta tanto uma doutrina sobre a criação, mas antes, a doutrina do Criador. Todas as coisas ali aparecem em sua relação para com Deus e na dependência d’Ele. A Bíblia Sagrada não tenta provar a existência de Deus e sim afirma o fato da existência de Deus. Declara: “Deus existe, e é o criador de tudo.”
a) A Criação do Universo (Gn 1.1)
Como considerar a descrição em causa? Ciência, fábula ou revelação? Se, por ciência, entendermos a disposição sistemática dum ramo do saber, diremos, então, que a descrição nada tem de "científico". E ainda bem, pois se fosse utilizada a linguagem científica do século XX, como a entenderiam os leitores dos séculos precedentes? E mesmo os atuais necessitariam duma adequada preparação científica. A narração do Gênesis não foi, portanto, redigida em moldes científicos, talvez para melhor mostrar a sua inspiração divina.
Quanto a supor-se uma fábula a narração do Gênesis, quer no sentido popular, quer no sentido clássico, não é fácil de admitir-se. Pois no primeiro caso tratar-se-ia duma obra puramente imaginária, e no segundo duma exposição simbólica dum fato com certas verdades abstratas, que de outro modo seriam incompreensíveis. Trata-se, sim, duma narração dos acontecimentos que não seriam compreendidos, se fossem descritos com a precisão formal da ciência. É neste estilo simples mas expressivo que a divina sabedoria se manifestou claramente aos homens, indo assim ao encontro das necessidades de todos os tempos. Os fatos apresentam-se numa linguagem abundante e rica, que é possível incluir todos os resultados das pesquisas científicas.
O primeiro capítulo do Gênesis não há dúvida que supõe a revelação divina.
São duas as palavras com que a Escritura designa a ação criadora de Deus: bara’ (criar) e ’ asah (fazer). A primeira é, sem dúvida, a mais importante, e aparece sobretudo nos versículos 1,21,27, ou seja, quando se pretende frisar o início de todos os seres em geral, dos seres animados e dos seres espirituais, respectivamente. O certo é que não há possibilidade de exprimir, por palavras humanas, essa obra maravilhosa de Deus, que transcende toda a ciência, por muito profunda e completa que seja. O significado exato de bara’ indicar a ação divina de trazer à existência algo inteiramente novo. No vers. 1 a idéia de criação exclui materiais já existentes, podendo então dizer-se que as coisas foram produzidas "do nada". Mas nos vers. 21 e 27 nada obsta a que se tenham utilizado materiais preexistentes.
E que dizer dos "dias" em que se operou a criação? Há quem suponha tratar-se de dias de 24 horas, uma vez que se mencionam tardes e manhãs, ou então admitir-se apenas uma visão dramática, já que a história se apresentou a Moisés numa série de revelações, que duraram seis dias. Sugestões interessante e curiosas, sem dúvida, mas que não passam de conjeturas, o mesmo sucedendo à teoria moderna, segundo a qual o "dia" representaria uma idade geológica. Para isso supunha-se que o sol, supremo regulador do tempo planetário, não existia durante os primeiros três dias; de resto, a palavra "dia" em Gn 2.4 estende-se aos seis dias da criação; por outro lado, em diferentes textos da Escritura o mesmo vocábulo refere-se a períodos de tempo ilimitado, como no Sl 90.4. A principal dificuldade que se levanta contra esta última interpretação é a alusão a "tarde" e a "manhã", mas pode admitir-se que a obra da criação figuradamente seja caracterizada por épocas bem definidas.
É espiritual e religioso o objetivo da narração de Gn 1. A formação dos seres vem manifestar as relações entre Deus e as criaturas de sorte que só a fé as compreenderá devidamente: "Pela fé entendemos que os mundos pela Palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente" (Hb 11.3). Só o crente, portanto, compreenderá o alcance da narração; mas não admira que por vezes surjam hesitações, perante as dificuldades de interpretação.
Mas a narrativa tem ainda um segundo objetivo: o de pôr o homem em contato com toda a criação, ou melhor, o de colocá-lo em posição de primazia perante todos os seres criados. Por isso vemos Deus a agir gradualmente na Sua obra criadora, que atinge, com a formação do homem, o ponto culminante dessa obra-prima de Deus.
Sem forma e vazia (1.2). A expressão hebraica (tohu wabhohu) “era sem forma e vasia” soa como uma questão um tanto contraditória, quando se não faz uma analise detalhada do texto. Pois em Is 45.18, onde aparece o termo bohu não contradiz aquele significado e dá a entender que Deus não abandonou a terra que criou: "Não a criou vazia, mas formou-a para que fosse habitada". O que acontece é que a palavra tohu wabhohu, pode ser traduzida por “tornou-se sem forma e vazia”, o que nos dá a entender que ocorreu algum evento que fez com que a terra se tornasse sem forma e vazia, seria sem lógica criar algo sem forma e vasio.
Disse Deus (1.3). "Pela palavra do Senhor foram feitos os céus" (Sl 33.6). Cfr. Jo 1.1-3. Luz (3). O caráter primário da luz, mesmo antes do sol, é um dos postulados da ciência moderna, mas o que devemos entender é que a palavra no original é: ´or, que siginifica vida, ou ainda ondas iniciais de energia. O que entendemos com isso é que quando houve a grande catastrofe que destruiu a obra inicial, e que a terra ficou sem forma e vazia, Deus intervem para reorganizar a sua obra criadora e a sua presença produziu a luz, ou como esta no original, a vida. Pois a terra ficou em trevas, e a presença de Deus traz luz, vida, onde Ele chega. E temos outras bases bíblicas para tal, onde por diversas vezes vemos a Bíblia tratando luz como vida e também como a vida eterna, a salvação em Jesus (Sl 56.13; 2Co 4.6; 1Jo 1.5-7; 1Jo 2.7-11; 1Pe 2.9; Ef 2.5). Isto nos mostra que mesmo em meio a destruição e caos em que a terra se encontrava Deus não deixou a sua obra perecer, mas com sua presença Deus trouxe luz, vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário