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domingo, 28 de dezembro de 2008

FELIZ NATAL


O Natal é a época do ano em que enfrentamos shoppings lotados, gastamos até o último tostão e estouramos o limite do cartão de crédito tentando comprar presentes para todos os que amamos – e até para alguns que não amamos.
Mas o maior presente de todos não custa nem um centavo. Não é preciso ficar em pé numa loja apinhada de gente esperando ser atendido para poder comprá-lo. Não é preciso esvaziar a carteira para pagar por ele. E não é preciso sacar o cartão de crédito e acrescentar mais um débito à sua conta já sobrecarregada.
De fato, não é possível comprar esse presente. Tudo o que podemos fazer é recebê-lo. Outra pessoa o comprou para nós. E lhe custou tudo o que tinha.
Na verdade, ele é um presente de muitas facetas, como uma jóia – mas muito melhor. Ele nunca sai de moda. Não se pode perdê-lo. Ele não pode ser arrancado, nem roubado. Ele jamais se quebra, nem precisa de conserto. Não precisamos comprar uma garantia para ele. Além disso, à medida que o tempo passa, ele vai melhorando cada vez mais.
Esse presente existe em quantidade suficiente para todas as pessoas do mundo. Infelizmente, muita gente não sabe nada a respeito dele, ou não entende que tudo o que precisa fazer é pedi-lo. Ninguém jamais tem seu pedido recusado.
Esse é o melhor presente de Natal que alguém pode receber. Aqui estão algumas coisas que vêm junto com ele: perdão dos pecados (Ef 1.7), paz (Jo 14.27), amor (Rm 8.35), vida eterna (Jo 3.16), vida abundante (Jo 10.10), a garantia de uma herança (Ef 1.3,11,14) e um corpo novinho em folha, no futuro (1 Co 15.50-54).
Para receber esse presente, tudo o que você tem a fazer é concordar com Deus e admitir que você é pecador. A Bíblia diz: "Não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque" (Ec 7.20). Se você já fez alguma coisa que o próprio Deus não faria, você está fora dos padrões dEle (Lv 20.7; Rm 3.23). Portanto, está qualificado a receber esse presente. Na verdade, você precisa dele. Foi por isso que Deus o preparou para você.
"Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo [o Messias] morrido por nós, sendo nós ainda pecadores" (Rm 5.8). Jesus recebeu o castigo pelos pecados que você cometeu, porque Ele o ama. E, porque Ele é Deus, ressuscitou dentre os mortos e está pronto a dar-lhe o presente da vida eterna. Tudo o que você tem a fazer é pedir.
Mas como você pode ter certeza de que Ele realmente lhe dará esse presente? Porque Ele mesmo diz: "O que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora" (Jo 6.37). "Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Rm 6.23).
Você não gostaria de receber agora mesmo o presente da vida eterna que Deus tem para lhe dar? Basta pedir. Será o melhor presente que você já ganhou na vida. E não existe melhor época para recebê-lo do que agora!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

MEDITAÇÕES SOBRE O LIVRO DE GÊNESIS - XXIV

UMA NOVA ALIANÇA DE DEUS COM ABRAÃO (Gn 15.7-21)

Na passagem de Gênesis 15:7-21, o Senhor alargou a promessa feita a Abraão, e a selou fazendo uma aliança incondicional com ele. Aqui há muitas coisas que podemos aprender da natureza da graça de Deus em nossa própria salvação.

A Confirmação (Gn 15.7-8): Aqui o Senhor reafirma Sua promessa de dar a Palestina para Abraão e sua semente. Quando Abraão pede uma prova para confirmar esta aliança, ele não parece estar demonstrando um espírito de descrença. Ele tinha fé em Deus, e parece ter sentido que Deus desejava dar provas tangíveis de Suas intenções. Todos os que são salvos recebem provas da certeza da futura herança que Deus lhes preparou (Ef 1.13-14). (Deus, em muitas ocasiões, condescende à fraqueza do homem) (Gn 24.10-14; Jz 6.36-40).

A Aliança (Gn 15.9-10): Nos tempos antigos, a forma mais forte de demonstrar lealdade e confiança era baseada na aliança descrita aqui. Os homens que desejavam fazer uma aliança matavam e desmembravam vários animais de seus rebanhos, em seguida, eles caminhavam entre as partes desmembradas. Desta maneira ficava implícito, que o que aconteceu aos animais, aconteceria com aquele que quebrasse a aliança (Jr 34.18-20).
Que maravilhosa graça o nosso Poderoso Deus demonstrou quando abaixou-se em fazer este tipo de aliança com os homens. O Senhor tem sempre dado ao homem a certeza de Suas intenções de manter Suas promessas (Hb 6.16-19).

A Vigilância de Abraão (Gn 15.11-12): A visão de Abraão certamente durou de uma noite até a outra. O dia inteiro ele protegeu os animais sacrificados das aves famintas. Isto nos ensina a necessidade de vigilância em nosso relacionamento com Deus. Nossas orações e alianças com Deus exigem que gastemos tempo diante do Senhor, até que recebamos evidências de que fomos ouvidos (2Co 12.8-9). Nas Escrituras, as aves muitas vezes representam maus espíritos (Lc 8.5 e 12). Vamos tomar cuidado com os pensamentos vãos e as intrusões Satânicas que atrapalham a nossa vida de oração.

Deus Fala (Gn 15.12-16): Enquanto a noite se aproximava, Abraão caiu em um profundo sono. Antes de confirmar a aliança, Deus explicou para ele o Seu futuro plano. Deus sempre dá ao Seu povo algum grau de conhecimento a respeito do futuro (Jo 15.14-15).
A. A semente de Abraão seria estrangeira em uma terra possuída por outros [Egito].
B. Lá eles seriam escravos.
C. A aflição deles duraria 400 anos
D. Deus julgaria a nação que os escravizaria (Êx 7 – 14)
E. Israel sairia enriquecido ao deixar esta terra (Êx 12.35-36)
F. Não há dúvidas de que Abraão estava imaginando se algumas destas coisas ocorreriam em sua época. A resposta foi "não", mas ele poderia estar certo de que teria uma vida longa.
G. Após passar por estas aflições, eles retornariam para Canaã.
H. Uma das razões pela qual a herança de Israel sofreria este atraso, seria porque os habitantes originais de Canaã não estavam prontos para serem julgados. Todos os habitantes de Canaã são chamados de Amorreus pelo fato de serem a tribo principal (Portanto, aprendemos que Deus na sua graça comum estabeleceu limites para a Sua longanimidade com as nações. Não há evidências nas Escrituras de que esta mesma verdade se aplique individualmente? (Hb 4.7; 1Ts 2.16; Ap 2.20-23). Muitos pregadores sinceros têm ridicularizado desta verdade de abusar da longanimidade de Deus por falharam em fazer uma distinção entre a graça comum e a graça salvadora.)

A Graça (Gn 15.17-21): Na escuridão, Deus confirmou a aliança passando entre os animais desmembrados. Sua presença se deu através do fogo (Dt 4.24) que era a forma normalmente conhecida pelos povos nômades. O forno (braseiro), era para lembrar a presença de Deus com Israel em seus futuros sofrimentos (Jr 11.4). A tocha era uma figura da direção de Deus para o Seu povo (2Sm 22.29).
A graça de Deus foi tremendamente manifestada quando somente Ele passou no meio dos animais desmembrados. De acordo com os costumes, ambas as partes teriam que passar no meio dos animais desmembrados e então teriam uma responsabilidade igual em guardar a aliança. O fato de que Deus incapacitou Abraão, a fim de que somente Ele pudesse passar pelos animais, é significativo. Ele estava demonstrando que a Sua aliança seria incondicional. As promessas da aliança feitas a Abraão não dependeriam de sua fidelidade, mas somente de Deus. No futuro, Israel saberia que as promessas que havia recebido estavam baseadas na graça imerecida de Deus. Não era pela santidade ou honestidade de Abraão, mas pela fidelidade de Deus em manter Sua promessa.
Isto por acaso não ilustra a nossa própria segurança na salvação? Deus se responsabilizou por toda nossa redenção. Nossa esperança não esta baseada em nossa bondade, mas na promessa incondicional de Deus (2Tm 1.9; Rm 8.33-39). O efeito é engrandecido quando nós consideramos que os animais sacrificados foram todos usados nas ofertas Levíticas durante o regime da lei, e assim eram símbolos de Cristo. Eles representavam o que aconteceria com aqueles que quebrassem a aliança. Todos nós somos transgressores da lei e da aliança, mas Cristo pagou pela culpa dos nossos pecados (Rm 8.3, 5.8). Através da Sua morte, Deus poderia conceder uma salvação inteiramente pela graça para o Seu povo (Tt 3.5-7).

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

MEDITAÇÕES SOBRE O LIVRO DE GÊNESIS - XXIII

DEUS ANIMA ABRÃO E LHE PROMETE UM FILHO (Gn 15.1-6)

A Bíblia é uma revelação progressiva. Quanto mais nós prosseguimos em conhecê-la, mais luz e entendimento nós receberemos dos propósitos e do plano de Deus. Gênesis 15 é um grande passo em direção a esta revelação.
Muitos conceitos novos são introduzidos aqui:
A. O conceito de fé - vers. 6
B. O primeiro dos títulos "EU SOU" de Deus aparece aqui - vers. 1.
C. O primeiro exemplo de salvação pela fé - vers. 6
D. O primeiro exemplo de justiça imputada - vers. 6.
E. A primeira menção da "palavra do Senhor".

O Desânimo de Abraão (Gn 15.1): Na batalha descrita no capítulo 14, Abraão fez alguns inimigos poderosos. O que proibiria estes poderosos exércitos a retornarem para destruir uma tão pequena força militar? Que chance Abraão teria contra eles se não tivesse utilizado este elemento de surpresa? Não há dúvidas de que todos estes pensamentos passaram pela mente de Abraão. Nós normalmente nos sentimos vulneráveis diante de dúvidas e temores, principalmente após termos passado por uma vitoriosa experiência.
Em Sua bondade e graça Deus confortou Abraão. Deus é o "Eu Sou". Ao usar este título Deus estava se comprometendo da seguinte maneira: "Eu Sou o que quer que meu povo necessite".

Deus prometeu aqui que seria estas duas coisas para Abraão:
A. "Teu Escudo" - Abraão não precisava temer seus inimigos, assim como nós não devemos também (Sl 4.8; 23.4; 27.1-3; Rm 8.31-39).
B. "Teu Grandíssimo Galardão" - Abraão se recusou a ser enriquecido pelo rei de Sodoma. Aqueles que abandonam alguma coisa por amor a Deus, nunca perdem por isso. A graça e a presença de Deus já é mais do que uma compensação, e, além disso, Ele sempre cuida e recompensa Seus filhos (Lc 9.23-26).
Note que nos versículos 1 e 4, a "Palavra do Senhor" veio a Abraão em visão e falou com ele. A maneira pela qual a "Palavra do Senhor" é personificada tem levado algumas pessoas a crerem que isto é uma referência a Jesus Cristo, ao invés da Palavra meramente falada (Jo 1.1 e 14; 1Jo 1.1; Ap 19.13).

A Reclamação de Abraão (Gn 15.2-4): Deus havia prometido fazer de Abraão uma grande nação (Gênesis 12.2). Enquanto Abraão envelhecia, parecia que isto se tornava cada vez mais impossível de se concretizar. Seu único herdeiro era o seu mordomo. Abraão não duvidou de Deus, ele apenas não entendia o que Deus estava fazendo. As vezes esquecemos que Deus aguarda até que toda esperança na carne se desvaneça, antes que Ele execute Seus maravilhosos feitos (Jo 11.21-44). Desta maneira somente Deus é glorificado e nossa fé é exercitada. Deus reafirmou a Abraão a sua promessa.

A conversão de Abraão (Gn 15.5-6): Temos aqui o primeiro exemplo de salvação pela fé registrado nas Escrituras. Abraão se tornou o "Pai dos fiéis", pois quem é salvo pela fé está seguindo este padrão (Gl 3.6-7). Gênesis 15:6 é de tamanha importância, que ele é citado três vezes no Novo Testamento (Rm 4.3; Gl 3.6; Tg 2.23). Deus levou Abraão para fora a fim de lhe mostrar as estrelas, e prometeu que a semente dele seria tão numerosa quanto aquelas estrelas. Com uma fé divinamente trabalhada, Abraão creu no Senhor.

Note aqui vários pontos importantes:
A. A fé de Abraão estava baseada na vinda do Salvador. Ele não somente creu que teria uma grande descendência, mas que de uma delas sairia o Salvador dos pecados (Gl 3.16). Abraão confiou no Salvador que viria (Jo 8.56).

B. A fé de Abraão o levou a ser contado como justo ou justificado diante de Deus. Aqueles que crêem em Cristo têm a "justiça de Deus" imputada em favor deles (Rm 4.22-25; 3.21-22). Nós, como Abraão, não somos aceitos diante de Deus pela nossa bondade. Mas através da justiça de Cristo, que nos é imputada, nós somos justificados diante de Deus (2Co 5.21).

C. Abraão como o "Pai dos fiéis" é o padrão de todos os remidos. Todo Cristão professo deveria perguntar: Eu fui salvo de acordo com o mesmo padrão de Abraão, ou estou confiando em outra coisa?
Vejamos como Paulo usa o exemplo de Abraão para expor falsas esperanças:
1. Ela não é alcançada através das obras (Romanos 4.1-8).
2. Ela não é alcançada através da circuncisão (Romanos 4.9-12).
3. Ela não é alcançada através da Lei (Romanos 4.13-16). Ver também Gálatas 3.

Conclusão
Você está confiando somente em Cristo para ser salvo? Você é um filho de Abraão? (Gl 3.7).
Somente por meio da justiça de Cristo que somos tidos justos diante de Deus. Não há nada que façamos que nos possa justificar diante de Deus. Por isso necessitamos de um salvador, a saber, Jesus Cristo que tomou sobre si nossos pecados.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O QUE SIGNIFICA "SEGUNDO A ORDEM DE MELQUISEDEQUE"?

O que significa “segundo a ordem de Melquisedeque”?


Davi profetizou, mil anos antes do nascimento de Jesus, que o Messias seria “sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque” (Salmo 110:4). O autor de Hebreus cita esta profecia várias vezes, e explica o seu significado em relação à superioridade total de Jesus.
A “ordem de Melquisedeque” não se refere a algum tipo de sociedade secreta ou mística como a Rosa Cruz, os Maçons ou os Templários. Não é alguma organização preservada desde a antigüidade, nem uma classe de sacerdotes na igreja do Senhor. A expressão “segundo a ordem de Melquisedeque” significa que o sacerdócio de Jesus é do mesmo tipo, ou parecido com, o sacerdócio de Melquisedeque.
Melquisedeque aparece na história bíblica, e some logo em seguida. Ele era rei de Salém e sacerdote de Deus (Gênesis 14:18). Abençoou Abraão e recebeu o dízimo dele depois da vitória do patriarca contra Quedorlaomer.
As Escrituras não relatam nada sobre antepassados nem descendentes de Melquisedeque (o ponto de Hebreus 7:3). Ele servia como sacerdote antes do nascimento de Isaque, então não era descendente da tribo de Levi (um dos netos de Isaque). Era sacerdote aprovado por Deus, independente de linhagem.
Deus fez algumas coisas no Velho Testamento pensando na vinda de Jesus, e assim ajudando o povo a entender a missão de Cristo. Os comentários em Gênesis e Salmos sobre Melquisedeque mostraram a possibilidade de ter um sacerdote que não era sujeito à Lei dada aos israelitas no Monte Sinai. É exatamente isso que o autor de Hebreus nos mostra, usando Melquisedeque como tipo de Cristo.
Jesus não podia ser sacerdote no sistema dado no Monte Sinai (Hebreus 8:4). O fato de Deus ter declarado Jesus sacerdote eterno serve de prova de mudança de lei: “Pois, quando se muda o sacerdócio, necessaria-mente há também mudança de lei” (Hebreus 7:14). “Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais excelente, quanto é ele também Mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas” (Hebreus 8:6).
Salmo 110, como o autor de Hebreus bem explica, aponta para o perfeito Rei e eterno Sacerdote, Jesus Cristo. Qualquer ensinamento que procura preservar algum sacerdócio humano segundo a ordem de Melquisedeque (como fazem, por exemplo, os mórmons), age por autoridade humana, e não divina (cf. Gálatas 1:10; 2 João 9), e diminui a importância de Jesus Cristo como o eterno e suficiente Sumo Sacerdote.

Estudo extraido do site: http://www.estudosdabiblia.net/

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

POR QUE CRISTO MORREU?



Por que Cristo morreu? Quem foi responsável por sua morte? Muitos não vêem problema algum nestas perguntas e, portanto, não têm dificuldade alguma em res­ponder a elas. Para esses, os fatos parecem tão claros como o dia. Jesus não "morreu", dizem; ele foi morto, executado publicamente como um criminoso. Achavam que as doutrinas que ele ensinava eram perigosas, até mesmo subversivas. Os dirigentes ju­daicos ficaram furiosos com sua atitude desrespeitosa para com a lei e com suas reivindicações provocadoras, enquanto os romanos ou­viram dizer que ele se estava proclamando rei dos judeus, e, assim, desafiava a autoridade de César. Para ambos os grupos, Jesus parecia ser um pensador e pregador revolucionário, e alguns o consideravam também como ativista revolucionário. Ele perturbou o status quo tão profundamente que decidiram acabar com ele. De fato, entraram em uma aliança maligna a fim de fazê-lo. No tribunal apresentou-se uma acusação teológica contra ele, blasfêmia. No tribunal romano a acu­sação era política, sedição. Mas quer seu delito tenha sido visto como primariamente contra Deus, quer contra César, o resultado foi o mesmo. Percebiam-no como uma ameaça à lei e à ordem, a qual não podiam tolerar. De modo que o liquidaram. Por que ele morreu? Ostensivamente, ele morreu como um criminoso, mas na realidade, como a vítima de mentes medíocres, e como um mártir de sua própria grandeza.
Um dos aspectos fascinantes que os escritos dos relatos dos Evan­gelhos fazem do julgamento de Jesus é essa mescla de fatores legais e morais. Todos eles indicam que tanto no tribunal judaico como no romano seguiu-se certo procedimento legal. A vitima foi presa, acu­sada e examinada, e chamaram-se testemunhas. Então o juiz deu o seu veredicto e pronunciou a sua sentença. Contudo, os evangelistas também esclarecem que o preso não era culpado das acusações, que as testemunhas eram falsas, e que a sentença de morte foi um hor­rendo erro judicial. Além do mais, o motivo desse erro foi a presença de fatores pessoais e morais que influenciaram a execução da lei. Caifás, sumo sacerdote judaico, e Pilatos, procurador romano, não eram apenas oficiais da igreja e do estado, no cumprimento e execução de seus deveres oficiais; eram seres humanos decaídos e falíveis, levados pelas paixões sombrias que governam a todos nós. Pois nossos motivos são confusos. Podemos ter êxito em preservar um pouco de retidão no desempenho do dever público, mas por trás dessa fachada espreitam emoções violentas e pecaminosas, as quais estão amea­çando explodir. Os evangelistas expõem esses pecados secretos, en­quanto contam a história da prisão, julgamento, sentença e execução de Jesus. É um dos propósitos da sua narrativa, pois o material dos Evangelhos era usado na instrução oral dos convertidos.


Os soldados romanos e Pilatos
Os responsáveis imediatos pela morte de Jesus foram, é claro, os soldados romanos que executaram a sentença. Todavia, nenhum dos quatro evangelistas descreveu o processo de crucificação.

Se tivéssemos de depender exclusivamente dos Evangelhos, não saberíamos o que aconteceu, Outros documentos contemporâneos, porém, nos dizem como era feita a crucificação. Primeiro, o prisioneiro era despido e humilhado publicamente. A seguir era forçado a deitar-se de costas no chão, suas mãos eram pregadas ou atadas ao braço horizontal da cruz (o patibulum), e seus pés ao poste vertical. Então a cruz era erguida e jogada num buraco escavado para ela no chão. Em geral, providenciava-se um pino ou assento rudimentar a fim de receber um pouco do peso do corpo da vítima para que não se rasgasse e caísse. Aí ficava o crucificado pendurado, exposto à intensa dor física, ao ridículo do povo, ao calor do dia e ao frio da noite. A tortura durava vários dias.
Os escritores dos Evangelhos não descrevem o processo de cruci­ficação. Unindo o que eles nos dizem, parece que, segundo um cos­tume romano conhecido, Jesus começou carregando sua própria cruz ao lugar da execução. Supõe-se, contudo, que ele caiu sob o peso dela, pois um homem chamado Simão, natural de Cirene, no Norte da África, que naquele momento entrava na cidade, vindo do campo, foi detido e forçado a levar a cruz de Jesus. Quando chegaram ao "lugar chamado Gólgota (que significa o lugar da Caveira)", ofere­ceram a Jesus vinho misturado com mirra, um gesto de misericórdia cuja finalidade era atenuar a dor. Mas, embora o tivesse provado, segundo Mateus, Jesus se recusou a bebê-lo. A seguir, os quatro evangelistas simplesmente escrevem: "E o crucificaram".1 E é só. Haviam descrito, com alguns detalhes, como os soldados zombaram dele no Pretório (residência do governador): Vestiram-no com um manto de púrpura, colocaram uma coroa de espinhos na sua cabeça e um cetro de caniço na sua mão direita, vendaram-lhe os olhos, cuspiram nele e bateram-lhe na face e deram-lhe na cabeça, ao mesmo tempo que o desafiavam a identificar quem o feria. Também ajoelharam-se na sua frente em zombaria. Os evangelistas, porém, não oferecem detalhes da crucificação; não fazem referência alguma ao martelo, aos pregos, à dor, nem mesmo ao sangue.
Tudo o que nos dizem é: "E o crucificaram". Isto é, os soldados haviam executado o seu horrendo dever. Não há evidência de que tenham tido prazer nele, nem sugestão de terem sido cruéis ou sá­dicos. Estavam apenas obedecendo a uma ordem. Era o seu dever. Fizeram o que tinham de fazer. E o tempo todo, diz-nos Lucas, Jesus continuava a orar em voz alta: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem" (23:34).
Embora os escritores dos Evangelhos pareçam sugerir que nenhuma culpa tinham os soldados romanos por crucificarem a Jesus (e acres­centam que mais tarde o centurião responsável por eles creu, ou pelo menos quase creu), quanto ao procurador romano que ordenou a crucificação, o caso é bem diferente. "Então Pilatos o entregou para ser crucificado. Tomaram eles, pois, a Jesus. . . Onde o crucificaram" (João 19:16-18). Pilatos era culpado. De fato, a sua culpa encontra-se em nosso credo cristão o qual declara que Jesus foi "crucificado sob Pôncio Pilatos".
Sabe-se que Pilatos foi nomeado procurador (isto é, governador romano) da província fronteiriça da Judéia pelo imperador Tibério e serviu durante dez anos, de cerca de 26 a 36 A.D. Ele adquiriu a fama de hábil administrador, tendo um senso de justiça tipicamente ro­mano. Os judeus, porém, o odiavam porque ele os desprezava. Eles não se esqueciam de seu ato de provocação do início do seu governo quando exibiu os estandartes romanos na própria cidade de Jerusa­lém. Josefo descreve outra de suas loucuras, a saber, que desapropriou dinheiro do templo a fim de construir um aqueduto.2 Muitos acham que foi no motim que se seguiu que ele misturou sangue de certos galileus com os seus sacrifícios (Lucas 13:1). Estas são apenas algumas amostras do seu temperamento esquentado, de sua violência e cruel­dade. De acordo com Filão, o rei Agripa I, numa carta ao imperador Calígula, descreveu Pilatos como: "Um homem de disposição infle­xível, e muito cruel como também obstinado",3 Seu objetivo principal era manter a lei e a ordem, conservar os judeus perturbadores fir­memente sob controle, e, se necessário para esses fins, ser implacável na supressão de qualquer tumulto ou ameaça de motim.
O retrato de Pôncio Pilatos nos Evangelhos se encaixa nessa evi­dência externa. Quando os dirigentes judaicos levaram Jesus a ele, dizendo: "Encontramos este homem pervertendo a nossa nação, ve­dando pagar tributo a César e afirmando ser ele o Cristo, Rei" (Lucas 23:2), Pilatos não pôde deixar de lhes dar atenção. À medida que a sua investigação prossegue, os evangelistas ressaltam dois pontos importantes.
Primeiro, Pilatos estava convicto da inocência de Jesus. Ele obvia­mente ficou impressionado com a nobre conduta, com o domínio próprio e a inocência política do prisioneiro. De forma que ele declarou publicamente três vezes não achar nele culpa alguma. A primeira declaração ele a fez logo depois do amanhecer de sexta-feira quando o Sinédrio lhe levou o caso. Pilatos os ouviu, fez algumas perguntas a Jesus, e depois de uma audiência preliminar anunciou: "Não vejo neste homem crime algum".4
A segunda ocasião foi quando Jesus voltou, depois de ter sido examinado por Herodes. Pilatos disse aos sacerdotes e ao povo: "Apresentastes-me este homem como agitador do povo; mas, tendo-o interrogado na vossa presença, nada verifiquei contra ele dos crimes que o acusais. Nem tampouco Herodes, pois no-lo tornou a enviar. E, pois, claro que nada contra ele se verificou digno de morte."5 A esta altura a multidão gritou: "Crucifica-o! Crucifica-o!" Mas Pilatos respondeu, pela terceira vez: "Que mal fez este? De fato nada achei contra ele para condená-lo à morte".6 Além disso, a convicção pessoal do Procurador acerca da inocência de Jesus foi confirmada pela men­sagem enviada por sua mulher: "Não te envolvas com esse justo; porque hoje, em sonhos, muito sofri por seu respeito" (Mateus 27:19). A insistência repetida de Pilatos sobre a inocência de Jesus é o pano de fundo essencial ao segundo ponto a seu respeito ao qual os evan­gelistas dão ênfase, a saber, suas engenhosas tentativas de evitar ter de tomar um partido. Ele queria evitar sentenciar a Jesus (visto acre­ditar ser ele inocente) e ao mesmo tempo evitar exonerá-lo (visto acreditarem os dirigentes judaicos ser ele culpado). Como poderia Pilatos conseguir conciliar esses fatores irreconciliáveis? Vemo-lo con­torcer-se à medida que tenta soltar a Jesus e pacificar os judeus, isto é, ser justo e injusto simultaneamente. Ele tentou quatro evasões.
Primeira, ao ouvir que Jesus era da Galiléia, e, portanto, estar sob a jurisdição de Herodes, enviou-o ao rei para julgamento, esperando transferir a ele a responsabilidade da decisão. Herodes, porém, de­volveu Jesus sem sentença (Lucas 23:5-12).
Segunda, ele tentou meias-medidas: "Portanto, depois de o casti­gar, soltá-lo-ei" (Lucas 23:16, 22). Ele esperava que a multidão se sa­tisfizesse com algo menos que a penalidade máxima, e que o desejo de sangue do povo fosse saciado ao verem as costas de Jesus laceradas. Foi uma ação mesquinha. Pois se Jesus era inocente, devia ter sido imediatamente solto, não primeiramente açoitado.
Terceira, ele tentou fazer a coisa certa (soltar a Jesus) com o motivo errado (pela escolha da multidão). Lembrando-se do costume que o Procurador tinha de dar anistia de páscoa a um prisioneiro, ele es­perava que o povo escolhesse a Jesus para esse favor. Então ele podia soltá-lo como um ato de clemência em vez de um ato de justiça. Era uma idéia astuta, mas inerentemente vergonhosa, e o povo a frustrou exigindo que o perdão fosse dado a um notório criminoso e assassino, Barrabás.
Quarta, ele tentou protestar sua inocência. Tomando água, lavou as mãos na presença do povo, dizendo: "Estou inocente do sangue deste justo" {Mateus 27:24). E então, antes que suas mãos se secassem, entregou-o para ser crucificado. Como pôde ele incorrer nessa grande culpa imediatamente depois de ter proclamado a inocência de Jesus?
E fácil condenar a Pilatos e passar por alto nosso próprio compor­tamento igualmente tortuoso. Ansiosos por evitar a dor de uma en­trega completa a Cristo, nós também procuramos subterfúgios. Deixamos a decisão para alguém mais, ou optamos por um compro­misso morno, ou procuramos honrar a Jesus pelo motivo errado (como mestre em vez de Senhor), ou até mesmo fazemos uma afirmação pública de lealdade a ele, mas ao mesmo tempo o negamos em nossos corações.
Três expressões na narrativa de Lucas iluminam o que, finalmente, Pilatos fez: "o seu clamor prevaleceu", "Pilatos decidiu atender-lhes o pedido", e "quanto a Jesus, entregou à vontade deles" (Lucas 23:23-25). O clamor deles, pedido deles, vontade deles: a estes Pilatos, em sua fraqueza, capitulou. Ele desejava soltar a Jesus (Lucas 23:20), mas também desejava "contentar a multidão" (Marcos 15:15). A multidão venceu. Por quê? Porque lhe disseram: "Se soltas a este, não és amigo de César; todo aquele que se faz rei é contra César" (João 19:12). A escolha era entre a honra e a ambição, entre o princípio e a conve­niência. Ele já estivera em dificuldades com Tibério César em duas ou três ocasiões prévias. Ele não podia arcar com mais uma.
Claro, Jesus era inocente. Claro, a justiça exigia a sua liberdade. Mas como podia ele patrocinar a inocência e a justiça se, fazendo-o, estaria negando a vontade do povo, desfeiteando os dirigentes da nação e, acima de tudo, provocando um levante, o que o levaria a perder o favor imperial? Sua consciência afogou-se nas altas vozes da racionalização. Ele fez concessões por ser covarde.


O povo judaico e seus sacerdotes
Embora não possamos exonerar a Pilatos, certamente podemos re­conhecer que ele se encontrava em um dilema difícil, e que foram os líderes judaicos que aí o colocaram. Foram eles quem entregaram Jesus a Pilatos para ser julgado, quem o acusaram de reivindicações e ensino subversivos, e quem atiçaram a multidão levando-a a exigir a cruci­ficação. Portanto, como o próprio Jesus disse a Pilatos: "Quem me entregou a ti, maior pecado tem" (João 19:11). Pode ser que, visto ter ele empregado o singular, se referisse ao sumo sacerdote Caifás, mas o Sinédrio todo estava implicado. Deveras, o povo também, como Pedro audazmente lhes disse logo depois do Pentecoste: "Israeli­tas. . . Jesus, a quem vós traístes e negastes perante Pilatos, quando este havia decidido soltá-lo. Vós, porém, negastes o Santo e o Justo e pedistes que vos concedessem um homicida. Dessarte matastes o Autor da vida. . ." (Atos 3:12-15). Parece que as mesmas multidões que haviam recebido a Jesus em Jerusalém no Domingo de Ramos com grande alegria, dentro de cinco dias estavam em altas vozes pedindo o seu sangue. Contudo, a culpa dos dirigentes, por tê-las incitado, era muito maior.

Jesus, desde o início, havia perturbado o estabelecimento judaico. Para começar, ele era irregular. Embora se dissesse Rabi, não havia entrado pela porta certa, nem subido a escada certa. Ele não tinha credenciais, nem autorização apropriada. Além disso, ele havia cha­mado sobre si mesmo a controvérsia por causa do seu comportamento provocante, confraternizando com gente de má fama, festejando em vez de jejuar, e profanando o sábado por meio de curas. Não estando contente com o desrespeito pelas tradições dos anciãos, ele os havia, na realidade, rejeitado como um grupo, e tinha também criticado aos fariseus por exaltarem a tradição, colocando-a acima da Escritura. Eles se importavam mais com os regulamentos do que com as pessoas, dissera ele, mais com a purificação cerimonial do que com a pureza moral, mais com as leis do que com o amor. Ele até mesmo os havia denunciado como "hipócritas", chamando-os de "guias de cegos" e comparando-os a "sepulcros caiados, que por fora se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imun­dícia" (Mateus 23:27). Estas foram acusações intoleráveis. Pior ainda, ele estava minando a autoridade deles. Ao mesmo tempo ele fazia afirmações ultrajantes acerca de ser senhor do sábado, conhecer a Deus como seu Pai, até mesmo ser igual a Deus. Era blasfêmia. Sim, era isso mesmo, blasfêmia.
De modo que estavam cheios de indignação autojustificada para com Jesus. Sua doutrina era herética. Seu comportamento era uma ofensa à lei sagrada. Ele desviava o povo. E corriam rumores de que ele estava incentivando a deslealdade a César. Assim, o seu ministério devia ser detido antes que causasse maior dano. Eles tinham bons motivos políticos, teológicos e éticos para exigir que ele fosse preso, julgado e condenado. Além disso, quando o levaram ao tribunal e o colocaram sob juramento, mesmo então ele fizera reivindicações blas­femas acerca de si mesmo. Ouviram-no com seus próprios ouvidos. Já não era necessário chamar testemunhas. Ele era blasfemador con­fesso. Ele merecia morrer. Estava absolutamente claro. Ele era cul­pado. As mãos deles estavam limpas.
E contudo, existiam falhas no caso dos dirigentes judaicos. Dei­xando de lado a questão fundamental da veracidade das afirmações de Jesus, havia a questão do motivo. Qual era o motivo fundamental da hostilidade que os sacerdotes sentiam para com Jesus? Era o in­teresse deles a estabilidade política, a verdade doutrinária e a pureza moral? Pilatos não achou que fosse. Ele não se deixou enganar pelas racionalizações dos líderes do povo, especialmente por sua fingida lealdade ao imperador. Como disse H. B. Swete: "Ele detectou, sob o disfarce deles, o vício vulgar da inveja",7 Nas palavras de Mateus: "Porque sabia que por inveja o tinham entregado".8 Não há motivos para questionarmos a avaliação de Pilatos. Ele era um juiz astuto do caráter humano. Além disso, parece que os evangelistas, ao registra­rem o seu juízo, o endossam.
Inveja! Inveja é o lado inverso da moeda chamada vaidade. Nin­guém que não tenha orgulho de si mesmo jamais terá inveja de outros. E os dirigentes judaicos eram orgulhosos; racial, nacional, religiosa e moralmente orgulhosos. Tinham orgulho da longa história do rela­cionamento especial da sua nação com Deus, tinham orgulho de seu próprio papel de líderes da nação, e, acima de tudo, tinham orgulho da sua autoridade. A competição deles com Jesus foi, essencialmente, uma luta pela autoridade. Jesus havia desafiado a autoridade deles, pois possuía um tipo de autoridade que manifestamente lhes faltava. Quando os líderes judaicos foram a Jesus com suas perguntas cap­ciosas: "Com que autoridade fazes estas coisas? ou quem te deu tal autoridade para as fazeres?" (Marcos 11:28), pensavam que o tinham apanhado. Mas, em vez disso, encontraram-se amarrados pela con­trapergunta do Senhor: "O batismo de João era do céu ou dos homens? Respondei-me" (v.30). Estavam encurralados. Não tinham como res­ponder, porque se dissessem "do céu", ele quereria saber por que não creram nele, e se dissessem "dos homens", temiam o povo que acreditava que João era um profeta verdadeiro. De modo que não deram resposta. A tergiversação deles era um sintoma da sua insin­ceridade. Se não conseguiam enfrentar o desafio da autoridade de João, certamente não poderiam enfrentar o desafio da autoridade de Cristo. Ele dizia ter autoridade para ensinar a respeito de Deus, para expelir demônios, para perdoar pecados, para julgar o mundo. Em tudo isto ele era completamente diferente deles, pois a única autoridade que eles conheciam era o apelo a outras autoridades. Além disso, havia uma genuinidade auto-evidente acerca da autoridade de Jesus. Era real, sincera, transparente, divina.
De modo que se sentiam ameaçados por Jesus. Ele minava o pres­tígio deles, o domínio que exerciam sobre as pessoas, a sua própria autoconfiança e seu auto-respeito, enquanto os dele permaneciam intactos. Tinham inveja dele, e, portanto, decidiram eliminá-lo. É interessante que Mateus relate duas tramas invejosas para eliminar a Jesus. A primeira, de Herodes, no início da vida de Jesus, e a outra, dos sacerdotes, no final. Ambos sentiram uma ameaça à sua autori­dade. De modo que ambos procuraram destruir a Jesus.9 Por mais respeitáveis que os argumentos políticos e teológicos dos sacerdotes possam ter sido, foi a inveja que os levou a entregar Jesus a Pilatos para ser destruído.
A mesma paixão maligna influencia nossas atitudes contemporâ­neas para com Jesus. Ele ainda é, como o denominou C. S. Lewis, "um interferidor transcendental".10 Ressentimo-nos de suas intrusões à nossa vida privada, sua exigência de nossa homenagem, sua ex­pectativa de nossa obediência. Por que é que ele não cuida de seus próprios negócios, perguntamos petulantemente, e nos deixa em paz? A essa pergunta ele instantaneamente responde dizendo que nós somos o seu negócio e que jamais nos deixará sozinhos. De modo que nós, também, vemo-lo como um rival ameaçador, que perturba nossa paz, mina nossa autoridade e diminui nosso auto-respeito. Nós também queremos eliminá-lo.
Judas Iscariotes, o traidor
Tendo visto como os sacerdotes entregaram Jesus a Pilatos, e como Pilatos o entregou aos soldados, agora precisamos examinar como, para começar, Judas o entregou aos sacerdotes. Essa entrega é es­pecificamente chamada de "traição". Deveras, a quinta-feira santa será sempre lembrada como a noite em que ele foi traído (1 Coríntios 11:23), e Judas como aquele que o traiu. Esse epitáfio acusador já está preso ao seu nome quando ele é mencionado pela primeira vez nos Evangelhos entre os Doze. Os três evangelistas sinóticos colocam-no em último lugar na lista dos apóstolos.11
Não é incomum alguns expressarem simpatia para com Judas. "Afi­nal", dizem, "se Jesus havia de morrer, alguém tinha de traí-lo. As­sim, por que culpar a Judas? Ele não passou de instrumento da providência, uma vítima da predestinação". Bem, a narrativa bíblica certamente indica que Jesus conhecia de antemão a identidade do seu traidor12 e referiu-se a ele como destinado à destruição para que a Escritura se cumprisse.13 E também verdade que Judas fez o que fez somente depois que Satanás o instigou e entrou nele.14
Entretanto, nada disso exonera a Judas. Ele deve arcar com a res­ponsabilidade do que fez, tendo, sem dúvida, deliberadamente tra­mado suas ações. O fato de sua traição ter sido predita nas Escrituras não significa que ele não fosse um agente livre, assim como as pre­dições do Antigo Testamento acerca da morte de Jesus não significa que ele não tivesse morrido voluntariamente. De forma que Lucas mais tarde referiu-se à sua maldade (Atos 1:18). Por mais fortes ti­vessem sido as influências satânicas sobre ele, deve ter existido uma época na qual ele se expôs a elas. Parece que Jesus claramente o considerou como responsável por suas ações, pois até mesmo no último instante, no cenáculo, fez-lhe um apelo final, mergulhando um pedaço de pão e dando-o a ele (João 13:25-30). Judas, porém, rejeitou o apelo de Jesus, e sua traição parece ainda mais odiosa porque foi uma quebra flagrante da hospitalidade. Nesse aspecto ela cumpre outra Escritura que diz: "Até o meu amigo íntimo, em quem eu confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o calcanhar" (Salmo 41:9). O cinismo último de Judas foi escolher trair o seu Mestre com um beijo, usando esse símbolo da amizade a fim de destruí-la. De modo que Jesus afirmou a culpa de Judas, dizendo: "Ai daquele por intermédio de quem o Filho do homem está sendo traído! Melhor lhe fora não haver nascido!" (Marcos 14:21). Assim, Jesus não apenas o condenou, mas o próprio Judas, no final, condenou-se a si mesmo. Ele reconheceu o seu crime, trair o sangue inocente, devolveu o di­nheiro pelo qual tinha vendido a Jesus, e se suicidou. Sem dúvida, ele estava mais preso pelo remorso do que pelo arrependimento, mas, finalmente, confessou sua culpa.
O motivo do crime de Judas há muito que ocupa a curiosidade e a engenhosidade dos estudiosos. Alguns estão convictos de que ele era um zelote15 que se tinha unido a Jesus e a seus seguidores na crença de que o movimento deles era de libertação nacional, mas que, fi­nalmente, o traiu por causa de desilusão política ou como um truque a fim de que Jesus fosse obrigado a lutar. Os que tentam fazer uma reconstrução desse tipo pensam que encontram evidência confirma­tória no nome "Iscariotes", embora todos admitam que é um nome obscuro. Em geral acham que o nome indica a origem de Judas como "um homem de Queriote", uma cidade do Sul da Judéia, a qual é mencionada em Josué 15:25. Mas os que pensam que Judas foi um zelote sugerem que "Iscariotes" se relaciona com a palavra "sicário", um assassino (do latim sica e do grego sikarion, "adaga"). Josefo men­ciona os sicários.
Inflamados por um nacionalismo judaico fanático, os sicários es­tavam decididos a recuperar a independência do seu país do domínio colonial romano, e para esse fim lançavam mão até mesmo do assas­sínio de seus inimigos políticos, a quem desprezavam como infor­mantes. O Novo Testamento refere-se a eles apenas uma vez, a saber, quando o comandante romano que havia salvo a Paulo de ser linchado em Jerusalém perguntou-lhe: "Não és tu, porventura, o egípcio que há tempos sublevou e conduziu ao deserto quatro mil sicários?" (Atos 21:38).
Outros comentaristas consideram a base dessa reconstrução de­masiadamente fraca, e atribuem a deserção de Judas a falha moral em vez de motivação política, isto é, a ganância mencionada pelo quarto evangelista. Ele nos diz que Judas era o tesoureiro do grupo apos­tólico, tendo recebido o cuidado da bolsa comum. A ocasião do co­mentário de João foi a unção de Jesus por Maria de Betânia. Ela trouxe um vaso de alabastro contendo um perfume muito caro (nardo puro, segundo Marcos e João), o qual derramou sobre ele. Jesus estava reclinado à mesa, e a casa se encheu de um fragrante perfume. Foi um grande gesto de devoção quase exagerada, ao qual Jesus mais tarde chama de boa ação. Mas, alguns dos presentes (dos quais judas foi o porta-voz), reagiram de modo totalmente diferente. Observando-a com incredulidade, eles fungaram de indignação autojustificada. "Que desperdício!" disseram. "Que extravagância maligna! O per­fume podia ser vendido por um preço equivalente a mais de um ano de salários, e o dinheiro dado aos pobres." O comentário deles, po­rém, era insincero, como João prossegue a dizer. Judas não disse isso porque se importava com os pobres mas porque era ladrão; como guardador da bolsa, ele se servia do dinheiro que nela era colocado. Deveras, tendo testemunhado e denunciado o que viu como o des­perdício irresponsável de Maria, ele parece ter ido diretamente aos sacerdotes a fim de recuperar um pouco da perda. O que estão dis­postos a me dar se eu o entregar a vocês? perguntou ele. Sem dúvida alguma, então começaram a pechinchar, e no fim concordaram em dar-lhe 30 moedas de prata, o preço de resgate de um escravo comum. Os evangelistas, com o seu senso de alto drama, deliberadamente contrastam Maria com Judas, a generosidade desprendida daquela e a pechincha friamente calculada deste. Acerca das outras paixões som­brias que estariam queimando o coração de Judas só podemos con­jeturar, mas João insiste em que foi a ganância que finalmente o venceu. Inflamado pelo desperdício dos salários de um ano, ele foi e vendeu a Jesus por menos de um terço dessa quantia.16
Não é por acaso que Jesus nos diz que nos acautelemos de toda a cobiça, ou que Paulo declara que o amor do dinheiro é raiz de todos os tipos de males.17 Na busca do ganho material os seres humanos têm descido às profundezas da depravação. Os magistrados têm pervertido a justiça por subornos, como os juizes de Israel de quem Amós escreveu: "Vendem o justo por dinheiro, e condenam o necessitado por causa de um par de sandálias" (2:6). Os políticos têm usado o seu poder para a concessão de contratos ao que faz uma proposta melhor, e os espiões têm descido ao ponto de vender ao inimigo os segredos de seu país. Os negociantes têm feito transações desonestas, pondo em perigo a prosperidade de outros a fim de ganhar mais. Até mesmo professores supostamente espirituais têm transformado a re­ligião em uma empresa comercial, e alguns ainda hoje o fazem, de modo que o candidato ao pastorado recebe a advertência: não seja amante do dinheiro.18 O linguajar de todas essas pessoas é o mesmo que o de Judas: dependendo do que me derem, eu o entregarei a vocês. Pois todo mundo tem o seu preço, assevera O cínico, desde o assassino contratado, disposto a pechinchar a vida de alguém, ao mais baixo oficial que atrasa a emissão de um documento ou um passaporte enquanto não receber o seu suborno. Judas não foi ex­ceção. Jesus dissera que é impossível servir a Deus e ao dinheiro. Judas escolheu o dinheiro. Muitos outros têm feito o mesmo.


Os pecados deles e os nossos
Examinamos os três indivíduos — Pilatos, Caifás e Judas — a quem os evangelistas apõem culpa maior pela crucificação de Jesus, e seus associados: os sacerdotes, o povo e os soldados. Acerca de cada pessoa ou grupo usa-se o mesmo verbo: paradidomi, traduzido por "entregar" ou "trair". Jesus havia predito que seria entregue nas mãos dos ho­mens, ou "entregue para ser crucificado".19 E os evangelistas, ao contarem sua história, demonstram que a predição de Jesus foi ver­dadeira. Primeiro, Judas o entregou aos sacerdotes (por causa da ganância). A seguir, os sacerdotes o entregaram a Pilatos (por causa da inveja). Então Pilatos o entregou aos soldados (por causa da co­vardia), e eles o crucificaram.20

Nossa reação instintiva a esse mal acumulado é dar eco à pergunta espantada de Pilatos, quando a multidão gritou pedindo o sangue de Jesus: "Que mal fez ele?" (Mateus 27:23). Pilatos, porém, não recebeu uma resposta lógica. A multidão histérica clamava cada vez mais alto: "Crucifica-o! Crucifica-o!" Mas por quê?
É natural encontrarmos desculpas para eles, pois vemos a nós mes­mos neles e gostaríamos de ser capazes de nos desculparmos. De­veras, havia algumas circunstâncias mitigantes. Como o próprio Jesus disse ao orar pelo perdão dos soldados que o estavam crucificando: "pois não sabem o que fazem". Da mesma forma, Pedro disse a uma multidão de judeus em Jerusalém: "Eu sei que o fizestes por igno­rância, como também as vossas autoridades." Paulo acrescentou que, se "os poderosos deste século" tivessem compreendido, "jamais te­riam crucificado o Senhor da glória."21 Contudo, sabiam o suficiente para ser culpados, aceitar o fato de sua culpa e ser condenados por suas ações. Não estavam eles reivindicando responsabilidade total quando clamaram: "Caia sobre nós o seu sangue, e sobre nossos filhos"?22 Pedro falou com toda a franqueza no dia de Pentecoste: "Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo." Além do mais, longe de discordar do seu veredicto, o coração dos ouvintes de Pedro se compungiu e perguntaram o que deviam fazer (Atos 2:36,37). Es­têvão foi ainda mais direto em seu discurso ao Sinédrio, o qual o levou ao martírio. Chamou o Concilio de "homens de dura cerviz e incir­cuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo, assim como o fizeram vossos pais também vós o fazeis." Pois seus pais haviam perseguido os profetas e matado aqueles que pre­disseram a vinda do Messias, e agora tinham traído e assassinado o próprio Messias (Atos 7:51-52). Paulo, mais tarde, usou linguagem parecida ao escrever aos tessalonicenses acerca da oposição judaica do seu tempo ao evangelho: eles "mataram o Senhor Jesus e os pro­fetas, como também nos perseguiram". Por estarem tentando con­servar os gentios afastados da salvação, o juízo viria sobre eles (1 Tessalonicenses 2:14-16).
Culpar o povo judeu pela crucificação de Jesus hoje é extremamente fora de moda. Deveras, se a crucificação for usada como uma desculpa para matá-los e persegui-los (como aconteceu no passado), ou para propagar o anti-semitismo, é absolutamente indefensável. O modo de evitar o preconceito anti-semítico, contudo, não é fingir que os judeus são inocentes, mas, tendo admitido a sua culpa, acrescentar que outros partilharam dela. É assim que os apóstolos viram a situa­ção. Herodes e Pilatos, gentios e judeus, disseram eles, tinham juntos "conspirado" contra Jesus (Atos 4:27). Mais importante ainda, nós mesmos também somos culpados. Se estivéssemos no lugar deles, teríamos feito exatamente o que fizeram. Deveras, nós o fizemos. Pois sempre que nos desviamos de Cristo, estamos "crucificando" para nós mesmos o Filho de Deus, e o "expondo à ignomínia" (Hebreus 6:6). Nós também sacrificamos Jesus à nossa ganância como Judas, à nossa inveja como os sacerdotes, à nossa ambição como Pilatos. "Es­tavas lá quando crucificaram o meu Senhor?" pergunta o cântico es­piritual. E devemos responder: "Sim, eu estava lá." Não apenas como espectadores, mas também como participantes, participantes culpa­dos, tramando, traindo, pechinchando e entregando-o para ser cru­cificado. Como Pilatos, podemos tentar tirar de nossas mãos a responsabilidade por meio da água. Mas nossa tentativa será tão fútil quanto foi a dele. Pois há sangue em nossas mãos. Antes que pos­samos começar a ver a cruz como algo feito para nós (que nos leva à fé e à adoração), temos de vê-la como algo feito por nós (que nos leva ao arrependimento). Deveras, "somente o homem que está preparado para aceitar sua parcela de culpa da cruz", escreve Canon Peter Green, "pode reivindicar parte na sua graça".23
A resposta que até agora demos à pergunta: "Por que Cristo mor­reu"? procurou refletir o modo pelo qual os escritores do evangelho contam a sua história. Eles indicam a corrente de responsabilidade (de Judas aos sacerdotes, dos sacerdotes a Pilatos, de Pilatos aos soldados), e, pelo menos, sugerem que a ganância, a inveja e o temor, os quais instigaram o comportamento dos envolvidos, também ins­tigam o nosso. Contudo, esse não é o relato final dos evangelistas. Omiti uma evidência vital que eles apresentam. É esta: embora Jesus tivesse sido levado à morte pelos pecados humanos, ele não morreu como mártir. Pelo contrário, ele foi à cruz espontaneamente, até mesmo deliberadamente. Desde o começo do seu ministério público, ele se consagrou a esse destino.
No seu batismo, ele se identificou com os pecadores (como mais tarde o faria por completo sobre a cruz), e em sua tentação ele se recusou a desviar-se do caminho da cruz. Ele predisse muitas vezes os seus sofrimentos e morte, como vimos no capítulo anterior, e, decididamente, partiu para Jerusalém a fim de morrer aí. O uso cons­tante que ele faz da palavra "deve" em relação à sua morte expressa não uma compulsão exterior, mas sua resolução interior de cumprir o que a seu respeito havia sido escrito. "O Bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas", disse ele. Então, deixando de lado a metáfora, "eu dou a minha vida. . . Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou" (João 10:11, 17,18).
Além disso, quando os apóstolos resolveram escrever acerca da natureza voluntária da morte de Jesus, usaram várias vezes o mesmo verbo (paradidomi) o qual os evangelistas empregaram com relação ao ser ele entregue à morte por outros. Assim, Paulo pôde escrever que o "Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou (paradontos) por mim".24 A afirmação do apóstolo talvez tenha sido um eco de Isaías 53:12, que diz que ele "derramou (pareáothe) a sua alma na morte". Paulo também usou o mesmo verbo ao olhar para a auto-entrega voluntária do Filho à entrega do Pai. Por exemplo, "aquele que não poupou ao seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou (paredoken), porventura não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?"25 Octavius Winslow resumiu o assunto com uma bela afir­mativa: "Quem entregou Jesus para morrer? Não foi Judas, por dinheiro; não foi Pilatos, por temor; não foram os judeus, por inveja — mas o Pai, por amor!"26
É essencial que conservemos juntos estes dois modos complemen­tares de olhar para a cruz. No nível humano, Judas o entregou aos sacerdotes, os quais o entregaram a Pilatos, que o entregou aos sol­dados, os quais o crucificaram. Mas, no nível divino, o Pai o entregou, e ele se entregou a si mesmo para morrer por nós. A medida que encaramos a cruz, pois, podemos dizer a nós mesmos: "Eu o matei, meus pecados o enviaram à cruz"; e: "ele se matou, seu amor o levou à cruz". O apóstolo Pedro uniu as duas verdades em sua admirável afirmativa do dia de Pentecoste: "Sendo este entregue pelo deter­minado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mão de iníquos."27 Assim, Pedro atribuiu a morte de Jesus simultaneamente ao plano de Deus e à maldade dos homens. Pois a cruz, que é uma exposição da maldade humana, como temos consi­derado em particular neste capítulo, é ao mesmo tempo a revelação do propósito divino de vencer a maldade humana assim exposta.
Volto, ao terminar este capítulo, à pergunta com a qual o comecei: por que Jesus Cristo morreu? Minha primeira resposta foi que ele não morreu; ele foi morto. Agora, porém, devo equilibrar essa resposta com o seu oposto. Ele não foi morto, ele morreu, entregando-se vo­luntariamente para fazer a vontade do Pai.
A fim de discernir o que era a vontade do Pai, temos de examinar novamente os mesmos eventos, desta vez olhando abaixo da super­fície.
Este texto foi estraido do livro "A cruz de Cristo" - Jonh Stott

MEDITAÇÕES SOBRE O LIVRO DE GÊNESIS - XXII

A PRIMEIRA GUERRA, A VITÓRIA DE ABRÃO E MELQUISEDEQUE ABENÇOA A ABRÃO (Gn 14)

Neste capítulo podemos observar novas manifestações do caráter justo de Abraão. Aqui também somos apresentados a Melquisedeque, o misterioso rei, que é tão importante na história da salvação.

A primeira guerra (Gn 14.1-12): Temos aqui a primeira menção da guerra na Bíblia. O homem não demorou muito tempo para aprender esta arte (Tg 4.1-2).
Sinear é a antiga Babel e que depois se tornou Babilônia (Gn 10.10; 11.12). Elesar, sua localização é incerta, mas alguns estudiosos acreditam que se localizava ao norte da Mesopotamia perto de Harã. Elão é mais tarde conhecida como Pérsia. E Goim acredita-se que era um povo nomade que não tinha um reino estabelecido ainda pois Goim significa nações. Todas estas nações eram da região da Mesopotamia. Os seus rei fizeram guerra contra os reis da região do vale do Mar Morto, que aqui neste texto é chamado de Mar Salgado. Recebe este nome por ser as suas agua as mais denssas de toda a terra, chega a ter uma concentração salina de 25% que torna imposivel a possibilidade de vida nele.
Ló havia acumulado tesouros na terra, e então os ladrões começaram a minar e roubar. Podemos imaginar se isso não fora um castigo de Deus, e se foi, Ló não aprendeu ou tirou proveito desta repreensão.

A Vitória de Abraão (Gn 14.13-15): Várias coisas são dignas de nossa atenção:
A. Nesta passagem podemos ver como Abraão era rico. Ele deve ter tido mais de mil servos, pois convocou trezentos e dezoito para entrarem em combate.
B. Vemos aqui a grande coragem e habilidade militar de Abraão. Muito provavelmente, ele não só comandou seus próprios homens, como também todas as forças confederadas [vers.13]. A sua estratégia militar foi sábia e muito bem executada. A habilidade para comandar forças armadas não seria incomum para um xeque nômade como Abraão.

O Caráter de Abraão (Gn 14.16-24): Abraão foi muito bem sucedido em sua campanha militar. Mais importante ainda, seu caráter como um homem de Deus se sobressaiu.
A. A atitude de Abraão para com Ló fala a respeito de seu caráter. Ele manteve um amor fraternal e um interesse por Ló, a despeito de sua atitude egoísta. Muitos teriam se alegrado em ver a situação de Ló ao invés de ajudá-lo.
B. Abraão deixou bem claro que ele não havia lutado a fim de aumentar suas riquezas. O rei de Sodoma reconheceu que Abraão tinha o poder de estabelecer os termos. Ele poderia ter ficado com toda a riqueza. Abraão, entretanto, queria que seus motivos fossem claramente entendidos. Ele levaria apenas aquela comida para os seus servos. As guerras feitas apenas por motivos financeiros são injustas. (Abraão permitiu que seus confederados recebessem suas recompensas ou despesas - vers. 24).
C. Note que a principal razão para Abraão se recusar a receber do espólio da guerra, foi sua preocupação em glorificar a Deus. Ele havia feito um voto a Deus de que não pegaria nada do malvado rei de Sodoma [vers. 22-23]. Ele não queria que o ímpio levasse o crédito das bênçãos que Deus havia lhe dado. Este interesse em glorificar a Deus, nos faz lembrar de alguns de Seus servos (2Rs 5.15-16; 2Co 11.9).

Melquisedeque (Gn 14.18-24): No versículo 18, encontramos uma das pessoas mais misteriosas da Bíblia. O autor de Hebreus não somente mostra a importância deste homem, como também deixa claro, que somente alguém espiritualmente maduro pode compreender este assunto (Hb 5.10-11).
A. O Relato Bíblico - versículos 18-20.
1. Melquisedeque foi um rei - vers. 18.
a. Ele foi rei de Salém. Salém significa "paz".
b. O nome "Melquisedeque" significa "rei da justiça".
2. ENegritole era um sacerdote de Deus - vers. 18.
3. Ele alimentou Abraão quando este voltou da batalha.
4. Ele abençoou Abraão - vers. 19
5. Abraão pagou o dízimo a ele - vers. 20.
6. Não há registro de seu nascimento, morte ou parentesco (Hb 7.3).
B. Quem foi Melquisedeque?
1. Alguns acreditam que ele foi Sem. Esta é uma teoria interessante, mas como nós temos o parentesco de Sem, ela acaba caindo por terra (Hb 7.3).
2. Outros ensinam que Melquisedeque não foi outro senão o próprio Jesus, aparecendo temporariamente em forma humana. Estas manifestações de Deus no Velho Testamento são chamadas de Teofanias, e não devem ser confundidas com a encarnação de Cristo como homem (Gn 18.22, Js 5.13-15).
Como Hebreus 7:3 e 15 deixam claro que Melquisedeque foi um tipo ou figura de Cristo, nós também devemos rejeitar esta idéia.
3. Hebreus 7:3 e 15 deixam claro que Melquisedeque foi um tipo de Jesus Cristo. Assim como Adão, Moisés, Arão ou Davi, ele foi um homem mortal, cuja pessoa e vida, de várias maneiras foram um símbolo de Jesus Cristo.
C. O sentido doutrinário de Melquisedeque. Em Salmos 110, e Hebreus 7:1-28, nós aprendemos que Jesus Cristo foi um sacerdote, não segundo a ordem Levítica, mas, segundo a ordem de Melquisedeque. Este é um dos mais preciosos ensinos bíblicos a respeito de nosso Salvador.

MEDITAÇÕES SOBRE O LIVRO DE GÊNESIS - XXI

ABRÃO VOLTA DO EGITO, A SEPARAÇÃO DE ABRÃO E SEU SOBRINHO LÓ E SUAS CONSEQUENCIAS (Gn 13.1-18)

A vida de Abraão foi marcada por uma série de altos e baixos. Ele era um homem de verdadeira fé, e como todos os santos, ele passou por períodos de declínio espiritual. Após a sua queda no capítulo 12, ele estava brilhando novamente para Deus no capítulo 13 de Gênesis.

A restauração de Abraão (Gn 13.1-4): Embora Abraão tenha falhado com Deus no Egito, o Senhor não o abandonou (Sl 37.23-24). Através do castigo ele foi restaurado novamente para Deus (Hb 12.6-11). Embora a fé das pessoas regeneradas possa falhar de vez em quando, ela nunca é vencida (Hb 12.2; Lc 22.32). Abraão voltou para Canaã e à comunhão com Deus. Ele estava confiando em sua própria sabedoria quando ele desceu ao Egito. Cada passo de descrença o envolveu em maiores dificuldades. Depois de ser castigado e lembrado da habilidade de Deus em cuidar de Seus filhos, ele retornou ao lugar onde havia abandonado a Deus, e então começou novamente a ter comunhão com Ele. A oração de Abraão sem dúvida incluiu uma confissão de seu pecado (1Jo 1.7-9).

Um Problema, a separação de Abraão e Ló (Gn 13.5-7): Os Cristãos nunca vão muito longe sem se depararem com problemas. Deus havia enriquecido tanto a Abraão e a Ló, que se tornou difícil para eles viverem perto um do outro. Começou a ocorrer um atrito entre seus pastores, que aumentou dia a dia. Não podemos afirmar, mas imaginamos que em parte este problema veio pela desobediência inicial de Abraão, que falhou em se separar totalmente de sua parentela (Gn 12.1).
O versículo 7 nos mostra que os habitantes originais de Canaã estavam presentes lá. Uma importante lição deveria ser observada aqui. Os Cristãos terão sempre suas diferenças e desacordos. No entanto devemos lembrar que o mundo e os inimigos de Deus estão assistindo. O mundo adora ver os Cristãos brigando e desonrando a Deus. Vamos sempre ser cuidadosos em nosso comportamento quando tratarmos com outros crentes, de maneira que venhamos a agradar a Deus (1Co 6.1-7 ilustra isto).

Uma Resposta Espiritual (Gn 13.8-9): Abraão verdadeiramente manifestou um espírito Cristão aqui. Lembrando-se de que ele e Ló eram "irmãos", demonstrou que não queria brigar. Ele parecia valorizar seu relacionamento com o povo de Deus. E sendo um homem mais velho, ele poderia ter decidido as coisas a sua maneira, mas rebaixou-se para Ló (1Pe 5.5; 1Co 6.7). Em tudo isso ele agiu como um homem de mente espiritual (1Co 3.1-3).
Perceba que eNegritonquanto nós nunca deveríamos desenvolver uma raiz de amargura contra outro cristão, às vezes a separação é a melhor opção. Como ocorreu com Paulo e Barnabé, às vezes os homens mortais não podem se encarar face a face (At 15.36-41). Entretanto, o amor Cristão deveria permanecer.

Uma Decisão Carnal (Gn 13.10-13): Ló era um verdadeiro filho de Deus (2Pe 2.6-9). Infelizmente, ele ilustrou a verdade de que os santos podem fazer decisões carnais e sofrerem grandes perdas. Note os erros de Ló: Negrito
A. Ele se casou com uma mulher que nNegritoão temia a Deus e teve graves conseqüências em sua vida como resultado dessa decisão.
B. Ele tomou decisões sem primeiro orar (Pv 3.5-6). Diferente de Abraão, a Bíblia não menciona que ele tivesse muita comunhão com Deus.
C. Suas decisões foram baseadas somente em fatores mundanos [vers. 10], sem nenhuma preocupação das implicações espirituais (vers. 13). Quando sua vida é explanada diante de nós, vemos que ele estava constantemente ocupado nos negócios deste mundo.
Vejamos o que Ló perdeu em razão de sua vida espiritual descuidada:
A. Ele perdeu a paz e a alegria de espírito (2Pe 2.7-8).
B. Ele perdeu sua família. Sua mulher morreu quando Sodoma foi julgada. Suas duas filhas deram muitas evidências de que não conheciam a Deus.
C. Ele perdeu na sua influência. Não há evidências de nenhuma conversão em Sodoma. Até mesmo sua família não levou a sério as suas advertências espirituais (Gn 19.14).
D. Seus descendentes se tornaram uma maldição para o povo de Deus (Gn 19.36-38).
E. Ele caiu em pecados grosseiros (Gn 19.30-38).
F. Parece que ele foi corrigido por Deus (Gn 14), mas não tirou proveito disso, o que levou Deus a exercer uma disciplina mais séria de Gênesis 19.
G. Em geral podemos dizer, que enquanto a alma de Ló estava salva, sua vida foi perdida. Consideremos a importância de caminharmos em obediência com o Nosso Salvador.

Andando com Deus (Gn 13.14-18): Enquanto Ló estava aprendendo que este mundo não pode dar satisfação, Abraão estava desfrutando da comunhão com Deus. Vamos meditar seriamente neste contraste. Porventura Abraão não escolheu a melhor parte?
Uma vez mais Deus faz promessas a Abraão. Estas promessas se referem à Aliança da Palestina. A terra da Palestina foi dada como uma concessão perpétua a Abraão e sua semente. É fascinante ver Israel hoje de volta à sua terra.
Alguns têm perguntado como as promessas de Deus a respeito de uma herança terrena, pode se encaixar com a passagem de Hebreus 11.8-10. Lembre-se de que Abraão será ressuscitado para reinar com Cristo aqui na terra (Mt 8.11). Um dia o reino de Deus se manifestará visivelmente na nova e transformada terra. Abraão morreu sem possuir um acre da terra de Canaã (At 7.2-5), no entanto, ele desfrutará desta herança por toda a eternidade.

MEDITAÇÕES SOBRE O LIVRO DE GÊNESIS - XX

A CHAMADA DE DEUS A ABRAÃO E A IDA DE ABRAÃO AO EGITO (Gn 12)

Todo leitor atento notará como o foco do livro Gênesis começa a se estreitar neste ponto: mais espaço é dado para Abraão do que para a criação do mundo. Gênesis 1-11, é em muitos aspectos uma introdução ao restante da Bíblia. Em Gênesis 12, vemos um grande avanço na história da redenção, quando Deus escolhe e chama Abraão. Portanto a partir daqui estaremos estudando a segunda parte do livro de Gênesis que vai do capítulo 12 até o capitulo 50.
Há várias coisas para lembrar a respeito de Abraão:
A. Ele é o pai da nação Judaica e também de algumas outras.
B. Ele é o pai de todos os que são da fé (Gl 3.6-9). A palavra "Pai" aqui tem o sentido de alguém que é um exemplo em uma área particular (Gn 4.20-21; Jo 8.44). Abraão é o primeiro homem a ser mencionado como sendo salvo pela fé. Portanto, todos os que crêem em Cristo para a salvação, são filhos de Abraão. Antes de Abraão os homens também eram salvos pela fé, mas ele é o primeiro homem a quem Deus usa como um exemplo disto (Gn 15.3; Rm 4.3).
C. Abraão é o primeiro ancestral do Salvador Jesus nitidamente especificado.
A Chamada de Deus (Gn 12.1): Nós apenas podemos imaginar como Gênesis 12:1 se correlaciona com Gênesis 11:31-32. Em Atos 7:2-4, nós aprendemos que o chamado de Abraão veio enquanto ele estava em Ur dos Caldeus. A mudança de Terá, provavelmente ocorreu devido a chamada que Abraão recebeu. Entretanto, ele parou em Harã antes de entrar em Canaã. Este atraso provavelmente foi causado pela desobediência de Abraão. Ele deveria deixar ou sair de sua parentela, e a falha em deixar seu pai, tiveram como resultado a sua primeira desobediência no destino que Deus lhe traçara.
O Senhor desejava levantar uma nação separada, pela qual, Ele iria realizar o Seu plano da redenção. Até mesmo a família de Abraão tinha vivido entre os idólatras (Js 24.2). A escuridão do pecado parece ser universal, mas nós vemos o plano predestinado por Deus sendo realizado na chamada de Abraão. Quem naquela época poderia imaginar o que Deus iria fazer através de Abraão. A obediência dele exigiu grande fé (Hb 11.8). Houve muitas dificuldades aparentes acerca da sua fé nas promessas de Deus.
A. Ele não sabia para onde Deus o levaria.
B. Sua esposa era estéril.
C. Ele foi forçado a quebrar os laços familiares.
D. Canaã era uma cidade repleta de pessoas idólatras e ímpias, e Abraão não poderia desfrutar da amizade deles.
E. Muitas provas vieram sobre Abraão enquanto ele obedecia a Deus.
Aliança de Deus (Gn 12.2-3): Estas promessas dizem respeito a Abraão como pai da nação Judaica, e também de alguém cuja descendência o Messias viria. Deus cumpriu e cumprirá cada uma destas promessas. Mesmo hoje, há pessoas em todas as partes do mundo que são salvas e abençoadas pela fé em Cristo, que são da semente de Abraão (Gl 3.13-14).
A Obediência de Abraão (Gn 12.4-5): Tudo o que Abraão sabia na chegada a Canaã é que Deus o havia chamado para aquela terra. Ele creu, embora não pudesse entender completamente o plano de Deus. A fé geralmente nos leva para caminhos que são familiares somente ao Senhor. No versiculo 4 temos um problema para resolver: Gênesis 11:26 afirma: "Viveu Terá setenta anos, e gerou a Abrão, a Naor e a Harã". Em Atos 7.4, Estêvão afirma que Abraão saiu de Harã somente quando seu pai, Terá, morreu. Gênesis 11.32 diz que Terá morreu com 205 anos. Se Abraão nasceu quando Terá tinha 70 anos, e se ele foi para Canaã somente depois da morte de Terá aos seus 205 anos, então Abraão deveria ter 135 anos quando deixou Harã em viagem para Canaã. Entretanto, Gênesis 12.4 afirma: "Tinha Abrão setenta e cinco anos quando saiu de Harã". Que idade então tinha Abraão quando ele saiu de Harã, 75 ou 135 anos?
SOLUÇÃO: Abraão tinha 75 anos quando partiu de Harã. Embora fosse usual listar os nomes dos filhos do mais velho para o mais novo, esta prática nem sempre era obedecida. Gênesis 11.26 não diz que Terá tinha 70 anos quando Abraão nasceu. Antes, afirma que Terá viveu até os seus 70 anos sem ter filho algum, e então teve três filhos: Abraão, Naor e Harã. Possivelmente Harã tenha sido o filho mais velho de Terá, o que parece indicado pelo fato de que ele foi o primeiro a morrer (Gn 11.28). Naor foi provavelmente o filho do meio e Abraão, o caçula. Abraão foi apresentado em primeiro lugar porque ele foi o filho mais importante de Terá. Como Abraão tinha 75 anos de idade quando partiu de Harã, isso quer dizer que Terá estava com 130 anos quando Abraão nasceu.
Mais Revelações (Gn 12.6-9): Enquanto obedecemos a Deus, mais luz é lançada sobre o nosso caminho. Durante a sua viagem para Canaã, Deus fez novas promessas a Abraão. Aqui ele ficou sabendo que viera para Canaã porque sua semente a herdaria. Esta terra concedida aos Judeus é conhecida na teologia como a Aliança da Palestina. Perceba que Abraão era um homem que conhecia e adorava a Deus. Seus sacrifícios revelam sua fé na misericórdia de Deus. Quando ele "invoca o nome do Senhor", demonstra que ele sabia quem Deus realmente era.
Provas (Gn 12.10-20): Como a história não é complexa, vamos simplesmente considerar algumas das lições que são apontadas nestas Escrituras:
A. As provas vêm até mesmo para aqueles que obedecem a Deus. O que Abraão deve ter pensado da fome que sobreveio sobre a terra prometida? É difícil entendermos, pois não esperamos que haja fome em Canaã (uma figura da vida cristã, e não do céu) 1Pedro 4.12.
B. O maior de todos os santos pode cair. Vitórias passadas não são uma garantia de vitórias futuras. Cada prova necessita de um exercício novo da fé.
C. Um pecado leva a outro. Se Abraão tivesse ficado em Canaã, onde Deus o enviou, não teria sido tentado no Egito.
D. Durante as provações nossa fé deve estar confiada no poder de Deus e não na provisão do mundo (Egito é uma figura do mundo).
E. Nosso pecado pode servir de pedra de tropeço para outros. Note que Abraão conduziu sua esposa e seu futuro filho ao pecado (Gn 26.6-7). Também não sabemos que tipo de má influência isto causou a Ló. Muitos acreditam que ele se casou com uma mulher Egípcia, que mais tarde veio a ser um exemplo do julgamento de Deus sobre o pecado.
F. Nossos pecados destroem nosso testemunho. O Faraó não aparenta ter tido amor por Abraão ou pelo Deus de Abraão.
G. Deus é soberano, e pode proteger o Seu povo em qualquer lugar para onde eles vão.
H. Deus pode corrigir e restaurar seus filhos que andam no erro (Hb 12.6-8).

MEDITAÇÕES SOBRE O LIVRO DE GÊNESIS - XIX

A TORRE DE BABEL, A CONFUSÃO DAS LÍNGUAS E A LINHAGEM DE SEM ATÉ ABRAÃO (Gn 11.1-32)

N aula anterior estudamos sobre o fundador de Babel, Ninrode. Nesta aula falaremos a respeito da torre que os homens intentaram fazer, e as conseqüências que esta atitude trouxe, a confusão das línguas.

A Torre de Babel – II (Gn 11.1-9): No versículo 1 vemos que os habitantes da terra falavam a mesma língua, o que tornava muito fácil a união deles entorno de seus propósitos malignos. Após estudarmos a respeito de Ninrode, podemos entender melhor a posição de Gênesis 11:1-9. Versículos 1-2. A influência de Ninrode uniu o povo e o preservou de ser espalhado pela terra. Nesta época Sem ainda estava vivo e deve ter ficado espantado com esta rebelião, e por ela ter ocorrido logo após o dilúvio. Não há evidencias de que Sem estivesse no meio deste plano.

Nos versículos 3-4. Sem, que significa nome, era para glorificar o nome de Deus, trazendo através de seus descendentes o Messias ao mundo. Estes povos no entanto, se rebelaram contra Deus quando desejaram fazer um nome para eles mesmos. Vindo a planície de Sinar eles construíram uma grande e bonita cidade. Esta cidade foi conhecida mais tarde como Babilônia. Nesta cidade eles começaram a construir uma grande Torre, que seria um templo religioso e um lugar de adoração. A intenção era que ali fosse o centro da política e da união religiosa. (Estes templos torres são chamados de "ziggurats" e foram freqüentemente construídos nas épocas antigas. Ao redor da Babilônia existem vários destes templos torres, sendo que dois deles são tão antigos que os homens têm especulado se um deles não poderia ter sido a torre original). A torre foi construída de tijolos queimados e betume, pois na região da mesopotâmia não tinha muitas pedras. O pecado dos homens naquela época foi de querer viver uma vida aparte de Deus. Eram propósitos orgulhosos e que eram contrários à vontade de Deus (Gn 9.1 comparar com Gn 11.3-4). Quando o homem busca realizar seus projetos sem levar em conta os projetos de Deus terá que arcar com as conseqüências (Rm 1.20-32).

Nos versículos 5-7. Deus notou o progresso e a intenção destes homens maus. O pronome no plural no versículo 7, refere-se a natureza triunitária de Deus (fato que já estudamos no capitulo 1). Aqui nós temos que dar uma resposta para os céticos, pois eles afirmam que a Bíblia se contradiz pois como em outros textos a mesma afirma que Deus tem por atributo a onipresença, então como poderia Deus ter descido para ver a obra dos humanos se Ele está em todos os lugares? A resposta a este questionamento já foi dada durante nossas aulas quando tratamos to texto de Gn 3.9; 4.9; 6.6 e 8.1, que se trata de uma linguagem usada nas Escrituras que podemos entender, o que chamamos de acomodação. Essa é um tipo de linguagem que o ser humano pode entender.

Versículos 7-9. Pela sua misericórdia, Deus se recusou a permitir que este esquema maligno tivesse êxito. Quantas vezes na história, Deus interceptou os homens que queriam organizar o mundo através de um governo central (Napoleão e Hitler são exemplos disto). Isto foi realizado com eficácia fazendo com que diferentes famílias falassem diferentes idiomas, e desta forma se espalhassem pela terra. Então o plano original de Deus de repovoar a terra foi realizado. Mesmo hoje, a variedade de idiomas impede os ditadores de alcançarem o controle do mundo. O povo queria ter um grande nome, esquecendo-se que quem deve ser glorificado é Deus e não nós (Sl 115.1; Is 48.11; 1Sm 12.22). No julgamento de Deus, a cidade foi chamada de Babel, que significa confusão. Lamentavelmente o espírito destas pessoas permanece ainda na humanidade de hoje, pois a fama e o sucesso são coisas que tem iludido os homens de nossa época. Não querem engrandecer o nome de Deus e sim os seus próprios nomes, bem aventurados são aqueles que desejam engrandecer á Deus sobre todas as coisas e lhe rendem a glória que lhe é devida. Toda glória pertence a Ele.

A Linhagem de Sem até Abraão (Gn 11.10-32): Esta parte das Escrituras mostra a linhagem de Sem até Abraão.
A. Versículos 10-26. Esta genealogia é importante para mostrar que as profecias divinas são verdadeiras. Sem ela nós não teríamos como provar que Cristo é descendente de Sem. Note que o tempo de vida começou a encurtar após a queda do homem.

B. Versículos 27-32. Aqui nós recebemos muitos fatos relativos à Abraão:
1. Somos informados da morte do pai de Ló, o que explica o motivo de ele estar com a família de Abraão (Gn 11.28).

2. Somos informados a respeito do casamento de Abraão e a esterilidade de Sara (Gn 11.29-30).

3. No versículo 31 vemos que o pai de Abraão saiu de Ur dos Caldeus em direção à Canaã. Mas permanecem em Harã e Terá morre em Harã. Provavelmente o que motivou a mudança de Ur dos Caldeus para Canaã foi o chamado que Deus faz a Abrão em Ur (At 7.2-4; Gn 15.7; Ne 9.7). E que o chamado de Deus a Abraão do capitulo 12 é um relato tirado de dentro do capitulo 11.
A partir daqui nós temos a história caminhando para o propósito da redenção da humanidade com mais clareza, pois a partir daqui passamos a estudar não sobre todos os povos do mundo antigo, mas sobre apenas uma família de onde sairá o povo escolhido por Deus para trazer o Redentor ao mundo. É através da linhagem de Abrão, que teve se nome mudado para Abraão, que o Messias nascerá.
Aqui também nós terminamos de estudar a primeira parte do livro de Gênesis que foi do capítulo 1 ao 11, e a partir da próxima aula estaremos entrando na segunda parte do livro de Gênesis que vai do capítulo 12 até o 50, que relata a história dos patriarcas de Israel.

MEDITAÇÕES SOBRE O LIVRO DE GÊNESIS - XVIII

ORIGENS DAS NAÇÕES, LÍNGUAS E DIVISÕES GEOGRÁFICAS (Gn 10.1 – 11.32)

Estes capítulos são os únicos documentos antigos que relatam as origens das raças, línguas, e divisões geográficas. Da mesma maneira que Gênesis capítulos 1-3, a importância deles não pode ser descrita de maneira exagerada. Somente uma crença cega nos modernos historiadores pode deixar de reconhecer que em Gênesis nós temos a mais antiga e remota da história humana.

A Tabela das Nações (Gn 10.1-32): Através dos três filhos de Noé, a terra foi repovoada. Aqui temos este relato deixado para posteridade:
A. Os Descendentes de Jafé (Gn 10.1-5): Jafé foi o ancestral dos Gregos e das várias nações Européias. Ele era o de menor importância no relato bíblico.

B. Os Descendentes de Cão (Gn 10.6-20): Note que no mundo antigo, os filhos de Cão foram os primeiros a construíram as grandes cidades e impérios (vers. 10-12). O Egito antigo foi também fundado por um dos filhos de Cão (Misraim). Nos versículos 8-9, nós temos um breve relato de um homem que talvez tenha sido um dos mais influentes mortais que já viveram sobre a terra: Ninrode. Ele foi o pai da "globalização" política e o fundador da falsa religião. Ele literalmente organizou o mundo contra Deus, e sua influência está muito viva ainda hoje. Cuxe, seu pai, parece ter sido um homem que odiava a Deus. Talvez ele tenha ficado ressentido com a repreensão feita ao pecado de seu pai, e a maldição imposta sobre Canaã. De qualquer forma, ele colocou o nome de seu filho de Ninrode, que significa rebelde, e parece que ele o instigou a rebelar-se contra as ordens de Deus e a Sua adoração. Nós veremos isto mais atentamente no capítulo 11.

C. Os Descendentes de Sem (Gn 10.21-32): Sem significa "nome" e foi aquele de quem o povo Judeu, e finalmente o Messias vieram ao mundo. Nos versículos 21 e 24, encontramos o bisneto de Sem, "Éber". Éber foi o pai da nação Hebraica (Gn 14.13; 11.15-17). Não podemos afirmar, mas imaginamos que todos os povos antes de Babel falavam na língua hebraica. Neste caso, após Deus confundir as línguas, somente os descendentes de Éber teriam falado na língua original. Éber deu o nome a um de seus filhos de Pelegue (divisão), provavelmente pelo fato do rapaz ter nascido nos dias próximos aos eventos da Torre de Babel [vers. 25].

A Torre de Babel – I (Gn 11.1-9): Esta parte das Escrituras faz um comentário de Gênesis 10.8-10. Da mesma forma Gênesis 10 explica quem realmente era o líder em Babel. Vamos observar mais de perto a Ninrode, e depois então faremos uma exposição dos versículos 1-9.

A. Ninrode: 1. O nome Ninrode significa "rebelde". Ele foi o primeiro homem que realmente organizou uma rebelião contra Deus. Ele aparentemente foi influenciado por seu pai (Cuxe), que lhe deu este nome.

2. Ninrode foi um homem "poderoso" ou líder na terra (Gn 10.8).

3. Ele parece ter lutado para dominar, organizando a exterminação dos animais perigosos. Os animais se reproduzem mais rápido do que o homem, e devem ter sido realmente um problema após o dilúvio. Podemos entender esta situação quando nos lembramos de que nos tempos modernos, houve relatos de um simples tigre ter matado centenas de pessoas no período de alguns anos. Ninrode se tornou uma lenda e um provérbio em seus dias (Gn 10.9). Sua popularidade foi muito parecida com a daqueles famosos generais que foram promovidos para o alto escalão.

4. Ninrode organizou uma rebelião política contra Deus. Foi ordenado ao homem que repovoasse a terra (Gn 9.1). Eles deveriam se espalhar e povoar a terra. Por outro lado, Ninrode desejava manter todos juntos. Ele queria construir um governo centralizado e mundial, para consolidar assim os esforços dos homens. Deus parece ter usado o nacionalismo para restringir os pecados dos homens (At 17.26-27). A divisão de governos e línguas impede os propósitos malignos dos homens. Note que tem sido sempre os homens maus que promovem um sistema de governo mundial e centralizado (globalização). Isto não fica bem evidente no governo dos Estados Unidos? Nisto vemos em Ninrode um tipo do anticristo.

5. Ninrode também organizou uma rebelião religiosa contra o Senhor. A Torre de Babel era um templo religioso. Esta religião permeou o mundo antigo e permanece bem vivo hoje em dia. Quando estudamos as religiões pagãs, ficamos impressionados com as várias características comuns entre elas. Muitos livros excelentes têm sido escritos para mostrar como as doutrinas de Ninrode têm se infiltrado completamente na Igreja Católica Romana através dos anos. Isto é tão evidente que o Catolicismo e o sistema Ecumênico de religião estarão presentes na terra quando o Anti-Cristo vier, e são mencionados como "Mistério, a grande Babilônia" (Ap 17.1-6).
6. A frase "diante do Senhor" em Gênesis 10.9, tem uma implicação que denota o mal. Isto parece indicar que Ninrode ousadamente e reconhecidamente desafiou ao Senhor.

MEDITAÇÕES SOBRE O LIVRO DE GÊNESIS - XVII

UM NOVO COMEÇO, A ALIANÇA DE DEUS COM NOÉ E AS PROFECIAS DE NOÉ (Gn 9.1-29)

Aqui a raça humana tem um novo começo. Através destas oito almas o mundo foi repovoado. Temos uma evidencia que prova isso, é que em todos os continentes nós encontramos vários relatos a respeito do dilúvio, pois essa história tem sido passada de geração a geração. Somente nas Escrituras nós temos a história contada sem erros ou falsas fantasias.

Um Novo Começo (Gn 9.1-2): Devemos sempre entender que é a benção de Deus que promove o bem estar na vida do ser humano. Aqui nós vemos que o repovoamento da terra foi possível por que Deus os abençoou. Noé recebeu a mesma diretriz que foi dada para Adão (Gn 1.28). No entanto, houve uma mudança na maneira de exercer domínio. Em Gênesis 1.28 Deus mostrou ao homem que a terra foi criada para o seu proveito. Portanto, ele deveria dominar, ou em outras palavras, utilizá-la em seu benefício. Em Gênesis 9.2, é acrescentado, que para a proteção do homem, o temor dele estaria presente em todos os animais. Isto mostra como o pecado produziu miséria e desarmonia mesmo entre a criação física (Rm 8.22).

O Sangue (Gn 9.3-4): No relato da criação, foi dito ao homem para se alimentar de todas as ervas que davam semente (Gn 1.29). Aqui a dieta dele foi ampliada para incluir os animais. Entretanto, havia uma restrição para que não se comesse os animais vivos, ou animais cujo sangue não tivesse sido exaurido. Deus estava começando a incutir no homem o respeito pelo sangue. A vida da carne está no sangue (Lv 17.10). A maioria dos sacrifícios levíticos exigia o derramamento de sangue (Lv 17.11). Isto tudo estava nos preparando para entendermos a redenção através do sangue de Cristo (Ap 5.9).

A Pena de Morte (Gn 9.5-7): Aqui é a primeira menção da pena de morte para aquele que matar seu semelhante. Antes do dilúvio, a pena de morte não foi permitida (Gn 3.14-15). Deus reservou a Si mesmo o direito de julgar o homem. Infelizmente o homem encheu a terra com uma violência incontrolável (Gn 6.11). Certamente nós não podemos entender porque Deus tomou esta decisão. Talvez Ele desejasse mostrar ao homem a profundidade da sua natureza depravada, e a necessidade da força de um governo para restringi-lo. Após o dilúvio, Deus autorizou e de fato exigiu o exercício da pena de morte. A razão pela qual um assassinato exige tão séria penalidade, é explicada pelo fato de que o homem foi criado a imagem de Deus. Quando este fato é esquecido, a vida humana é vista como algo sem muito valor. Note como o aborto é promovido por homens ímpios. Porém hoje, na graça, nos é ensinado que a vingança é do Senhor (Rm 12.19)

A Aliança (Gn 9.8-17): Antes do dilúvio, provavelmente, não havia chuva sobre a terra (Gn 2.5-6). A primeira experiência do homem com a chuva foi durante o julgamento universal. Imagine o medo daqueles que vieram da Arca, ou como se sentiam aqueles que mais tarde ouviram a respeito do dilúvio, quando começava a chover. A fim de aliviar este temor, e como um sinal da promessa de Deus de não destruir mais a terra com água, foi feito um arco nas nuvens para servir como memorial deste pacto. O arco nas nuvens era o penhor da aliança que Deus fez com todos os homens e animais. Vamos explicar as nossas crianças o significado do arco na nuvem.

O Pecado de Noé (Gn 9.18-21): Os eventos aqui relatados ocorreram alguns anos após o dilúvio. Isto é provado pelo fato de que Canaã, o filho de Cam, já ter nascido ou mesmo ser bem jovem. Noé plantou uma vinha e produziu vinho. Ele bebeu até ao ponto de ficar bêbado, e por causa do calor que o álcool produziu, ele se despiu em sua tenda enquanto dormia. Este fato conduziu à uma tragédia.
Podemos tirar as seguintes lições deste episódio:
A. A Bíblia foi escrita por inspiração de Deus. Em sua completa integridade, ela expõe os erros dos melhores homens. Os livros escritos pelos homens têm a tendência de esconder os pecados e fraquezas daquelas pessoas que são admiradas.
B. Não importa quanto tempo nós temos de convertidos, ou quão fiéis nós temos sido à Deus, temos que ser vigilantes. O melhor homem irá cair se ele não vigiar e orar (Mt 6.13; 1Co 10.12-13). Somente Deus pode nos guardar de tropeçar (Jd 24).
C. O uso de vinho é um perigo real (Pv 20.1; 23.29-35).
D. O abuso do vinho conduz à outros pecados (Hc 2.15).

O Pecado de Cão (Gn 9.22-23): Os antigos eram extremamente modestos e reservados. É muito difícil entendermos qual nível de modéstia eles praticavam. A modéstia é uma virtude e deve ser incentivada nas crianças. O pecado de Cam foi a falta deste respeito e decência. Ao invés de honrar ao seu pai, ele o contemplou com satisfação e até contou aos outros da desgraça de seu pai. Talvez ele estivesse ressentido com a piedade de seu pai e ficou satisfeito com sua queda. Veja o contraste entre o comportamento de Cam e o de seus dois irmãos. Não foi o respeito e honra deles para com Noé uma repreensão a seu irmão?

As Profecias de Noé (Gn9.24-27): A Maldição de Canaã - Quando Noé despertou e soube do comportamento de Cam, ele ficou indignado. Nesta época Cam tinha um filho chamado Canaã. Os traços ruins de Cam parecem já terem sido manifestos nele. Então, ao invés de a maldição cair sobre Cam e todos os seus descendentes, caiu sobre Canaã. Ele e seus descendentes foram amaldiçoados com a escravidão.
Vamos observar as informações bíblicas a respeito de Canaã e seus descendentes:
1. Canaã foi apenas um dos filhos de Cão (Gn 10.6).
2. Os descendentes de Canaã se estabeleceram na terra dada a Israel (Gn 10.15-19).
3. Os descendentes de Canaã tinham uma tendência à imoralidade (Gn 10.19- Sodoma e Gomorra; Gn 15.16; Gn 19. Gn 34.1-2; note Gn 10.15-16; Lv 18.3-24 - note vers. 3).
4. Os Cananeus foram dominados e escravizados por Israel e muitas nações de gentios.
5. Os últimos Cananeus parecem ter sido destruídos em 146 A.C., quando Roma atacou a cidade Fenícia de Cartago. Até mesmo os Romanos ficaram chocados com a impiedade de Cartago.
B. Sem é Abençoado - Sem foi o pai dos povos orientais, incluindo Abraão e o povo Judeu. Perceba que a benção de Sem está associada a Deus. Através de Sem vieram todos os Judeus e seus profetas, e finalmente o Senhor Jesus Cristo. Canaã deveria ser servo deles.
C. Jafé é Abençoado - Jafé foi o pai dos povos nórdicos ou Europeus. Várias promessas são feitas aqui:
1. A descendência de Jafé se alargaria. Note através da história, as conquistas mundiais realizadas pela semente de Jafé.
2. Jafé habitaria nas tendas de Sem. Isto pode se referir ao fato de que os descendentes de Jafé têm freqüentemente vivido nas terras de Sem. O mais importante é que isto é sempre visto como uma profecia a respeito do evangelho chegando até aos gentios (At 16).
3. Canaã deveria ser servo deles. Os Cananeus foram freqüentemente escravizados e finalmente destruídos pelos descendentes de Jafé. O capítulo termina relatando a extensão da vida de Noé.

domingo, 7 de dezembro de 2008

MEDITAÇÕES SOBRE O LIVRO DE GÊNESIS - XVI

AS ÁGUAS DO DILÚVIO DIMINUEM E NOÉ E SUA FAMÍLIA SAEM DA ARCA (Gn 8.1-22)

Noé e sua família devem ter imaginado se eles sairiam novamente da Arca. Entretanto, no tempo de Deus, o julgamento se completou e a terra voltou a ficar seca. Este foi um novo começo para a raça humana. Infelizmente, o caráter do homem não melhorou. Todavia, Deus deu novas manifestações de Sua graça e longanimidade.
Lembrou-se Deus (Gn 8.1-3): Enquanto os dias se seguiam, provavelmente Noé sentiu-se esquecido. Esta é uma doença comum entre os servos de Deus. A frase "lembrou-se Deus", no hebraico, significa que Deus começou a agir em seu favor. Deus nunca se esquece do Seu povo (Is 49.15-16; Sl 139), como também na ocasião apropriada, Ele se levanta para socorrê-los. Em sua onisciência, Deus sempre esteve consciente de que Noé estava na arca. Entretanto, depois de Noé ter permanecido nela por mais de um ano, como se tivesse sido esquecido, Deus deu um sinal de sua lembrança e fez com que Noé e sua família saíssem da arca. Mas, Deus nunca se esqueceu de Noé, já que o Senhor mesmo foi quem o notificou, no início, para salvar a si e à espécie humana (cf. Gn 6.8-13). Com freqüência, nós mesmos usamos uma expressão semelhante, quando dizemos que nos "lembramos" de alguém no seu dia de aniversário, mesmo que nunca tenhamos nos esquecido da existência de tal pessoa.
A Arca Repousa (Gn 8.4-5): Parece que Deus nunca está com pressa. Suas obras exigem nossa paciência. Ao invés de secar a terra em um só dia, Deus permitiu que as coisas ocorressem por etapas. Quase seis meses após o início do dilúvio, eles finalmente vieram a repousar em algum lugar nas montanhas do Ararate. Lentamente as águas recuaram, e três meses após a arca repousar sobre os montes Ararate, que está a 5.185 metros de altitude, foi avistado os picos de montes menores.

O Corvo (Gn 8.6-7): Aproximadamente depois de dez meses, Noé abriu a janela e soltou um corvo. Provavelmente ele queria saber quais eram as condições da terra. O corvo, como um pássaro considerado cerimonialmente imundo (Lv 11.15), é freqüentemente visto aqui como um tipo do apóstata. Ele estava feliz por escapar da Arca, e ficaria contente com qualquer tipo de poleiro que pudesse encontrar. Isto nos faz lembrar dos Cristãos professos, que nunca nasceram de novo, e por fim terminam voltando para o pecado e o mundanismo (2Pe 2.20-22). Com certeza o corvo por ser, também, uma ave de rapina, que come cadáveres em decomposição, ficou muito bem fora da arca. Pois existiam muitos corpos de humanos e de animais em decomposição e boiando sobre as águas do dilúvio.

A Pomba (Gn 8.8-12): Noé agora continua seu teste utilizando uma gentil e amável pomba. A pomba é um tipo do Espírito Santo (Mt 3.16). Este tipo é normalmente aplicado da seguinte maneira:
A. A pomba, diferente do corvo, não ficaria contente com qualquer poleiro sujo, nem mesmo pousaria em algum corpo morto e inchado. Da mesma maneira, o Espírito Santo é ofendido pelo pecado e pela impureza (Ef 4.30).
B. Ao retornar com uma folha de oliveira, a pomba estava trazendo para Noé a esperança e a segurança de que o dilúvio havia terminado. Da mesma forma, o Espírito Santo traz alegria e segurança aos corações dos Cristãos (Rm 8.16, 5.5). É interessante notar que a oliveira tem sido observada brotando, mesmo quando ela está submersa em um lago inundado.

A Terra Seca (Gn 8.13-14): Noé e sua família permaneceram na Arca durante mais de um ano, até que a terra finalmente ficou seca (Compare versículos 13-14 com Gn 7.11). Sem dúvida, Deus os manteve confinados para o próprio bem deles. Era necessário aguardar um tempo até que as plantas crescessem para alimentar os animais. Além do mais, a lama seria perigosa, e até mesmo um risco para a saúde da maioria dos tripulantes da Arca. Nas nossas frustrações, vamos lembrar que Deus sempre faz o que é melhor para nós (Rm 8.28).

Saindo da Arca (Gn 8.15-19): Finalmente chegou o dia quando eles puderam sair da Arca. Houve muita alegria e alívio. Duas coisas são dignas de nota:
A. Antes que Deus os tirasse da Arca, disse: "Sai da Arca" ao invés de "venha para fora". Ele estava presente na Arca o tempo todo, desde a partida (Gn 7.1) até a chegada deles (Rm 8.35).
B. Todos os que estavam na Arca saíram a salvo. Isto nos faz lembrar da segurança que temos em Cristo. Ninguém que estava na Arca pereceu sob a ira de Deus (Jo 5.24). Eles estavam selados e seguros dentro da Arca (Ef 4.30; Gn 7.16). Ninguém caiu, pulou e morreu afogado, e nem foi forçado a sair (Jo 10.27-29).

A Promessa de Deus (Gn 8.20-22): Agora podemos entender o propósito para os sete animais limpos. Estes animais foram conservados para serem oferecidos como sacrifício á Deus. Note os resultados destas ofertas:
A. Estes sacrifícios foram de cheiro suave ao Senhor. Na Sua ira, Deus destruiu a terra. As ofertas lembravam a Ele a futura morte de Cristo, pela qual, a misericórdia seria demonstrada aos pecadores (Ef 5.2). Deus se lembrou do propósito da graça, e das multidões que o glorificariam para sempre. (Vamos lembrar, que estamos usando uma forma de linguagem a respeito de Deus que nós podemos entender. Nós freqüentemente descrevemos Deus como se Ele fosse homem, como por exemplo, o uso da expressão "lembrou-se Deus". Entretanto, isto não deve ser tomado no sentido literal).
B. Deus determinou que "não haverá mais dilúvio para destruir a terra" (Gn 9.11). Note que Ele não disse isso por causa dos sacrifícios. De fato, o versículo 21 revela que Deus reconheceu que a natureza depravada do homem não pode ser corrigida pelo julgamento. O coração do homem é o mesmo em toda as épocas, pois vemos que a Torre de Babel foi construída antes da morte de Sem. Somente a salvação em Cristo pode mudar a natureza do homem. A promessa de Deus foi baseada somente em Sua longanimidade através de Cristo. Porque Ele tem um povo eleito e remido pelo sangue de Cristo, permite que o mundo continue a existir, enquanto o propósito da graça é realizado.
C. Note por último que, um dia, este mundo será destruído pelo fogo. Até que isso ocorra, não haverá nenhum julgamento universal (2Pe 3.5-12). E isso não significa que Deus mudou de idéia. Pois Ele prometeu que não feriria mais o homem como o fez naquela ocasião, ou seja, pelo dilúvio. Mas é categórico ao dizer em 2Pedro que destruirá pelo fogo.