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quinta-feira, 22 de julho de 2010

MEDITAÇÕES SOBRE O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS - V

A TENTAÇÃO DE JESUS NO DESERTO (Mt 4.1-11)



Por Alessandro Costa Vieira



Há uma relação íntima entre o batismo e a tentação. No primeiro, Jesus se dedicou ao caminho da cruz. No segundo, o diabo lhe apresentou meios pelos quais Ele podia efetuar seu ministério sem ir à cruz.

Conduzido pelo Espírito (Mt 4.1): Foi pela expressa vontade de Deus que esta crise se produziu na vida de Jesus. Não é que Deus queria ver se Jesus cairia ou não, mas uma demonstração da impossibilidade da Sua queda, pois como esta escrito em Hb4.15 que em tudo foi tentado, porém sem pecado. Ele foi ao deserto porque era preciso enfrentar esta terrível prova a sós.
Diabo é um dos nomes da serpente primitiva do Jardim do Éden, que ocasionou a queda do homem (Ap 12.9). É o "príncipe deste mundo" (Jo 16.11), "o príncipe das potestades do ar" (Ef 2.2). Nestes dias científicos, alguns acham dificuldade em acreditar na realidade do mundo dos espíritos, mas não ofende nosso raciocínio o ensino bíblico quanto ao mundo invisível habitado por inteligências que, duma maneira que ignoramos, exercem o poder de sugestão sobre nossa mente. Desde Gênesis até o Apocalipse, a Bíblia ensina que o diabo tem personalidade. Por isso a Bíblia também nos ensina a resisti-lo (Tg 4.7). A realidade deste episódio da vida de Jesus mostra que todas as coisas estão sob controle Divino, que as coisas não acontecem por coincidência ou fatalismos. Existe um propósito de Deus em tudo que acontece em nossas vidas. Assim também aconteceu com Jó, o diabo só pôde agir com permissão Divina. Assim Josafá reconheceu quando os inimigos vinham guerrear contra seu povo (2Cr 20.3-12).

Tendo jejuado (Mt 4.2): No relato de Lucas difere um pouco do de Mateus, mas não se contradizem, e um completa o outro. Mateus diz que Jesus foi tentado somente depois do jejum, porém, Lucas diz que foi tentado durante os quarenta dias (Lc 4.2). Como devemos entender isso? A verdade é que de fato Jesus pôde ter sido tentado sim por todos os quarenta dias e que ao fim dos quarenta dias veio as tentações mais poderosas, que é as que são relatadas tanto por Mateus como por Lucas, lembremos mais uma vez de Hb 4.15. A necessidade do jejum não é explicada. Talvez fosse para demonstrar que, quando mais fraco fisicamente, o Senhor era capaz de enfrentar e vencer o diabo em toda a sua força. Iremos estudar mais sobre o jejum em Mateus 6.16-18.

A tentação (Mt 4.3-11):  As três grandes tentações veio no momento critico do jejum, após quarenta dias. E abrangeu três aspectos da vida humana. A concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e a soberba da vida (1Jo 2.16). Devemos notar de modo mais detalhado a natureza de suas tentações no deserto (Mt 4.1-11; Mc 1.12-13; Lc 4.1-13). A essência dessas tentações era uma tentativa de convencer Jesus e escapar da dura trilha de obediência e do sofrimento que lhe fora designada como o Messias. Jesus “foi guiado pelo[...] Espírito, no deserto, durante quarenta dias, sendo tentado pelo diabo” (Lc 4.1-2). Em muitos aspectos, essa tentação forma um paralelo com a tentação enfrentada por Adão e Eva no Jardim do Éden, mas foi muito mais difícil. Adão e Eva tinham comunhão com Deus e um com o outro e abundancia de todo tipo de comida, pois receberam ordens só de não comer de uma arvore. Contrastando com isso, Jesus não tinha comunhão com seres humanos e nem comida com que se alimentar e, depois de jejuar quarenta dias, estava a ponto de morrer fisicamente. Em ambos os casos, o que se exigia não era uma obediência a um principio moral eterno arraigado no caráter de Deus, mas um teste de obediência pura a uma instrução especifica de Deus. A Adão e Eva, Deus ordenou que não comessem da arvore do conhecimento do bem o do mal, e a questão era se obedeceriam simplesmente por Deus lhe ter falado. No caso de Jesus, “guiado pelo Espírito” por quarenta dias no deserto, ao que parece, ele compreendeu que era vontade do Pai, pela direção do Espírito Santo, lhe que a tentação estava encerrada e que ele podia partir. Vejamos as tentações:
1ª – Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães. É claro que Jesus era o Filho de Deus, e é claro que ele tinha o poder para transformar instantaneamente qualquer pedra em pão. A tentação era intensificada pelo fato de parecer que perderia a vida, caso não comesse logo. Mas ele viera para obedecer perfeitamente a Deus, em nosso lugar, e deveria fazê-lo como homem. Isso significava que tinha de obedecer só em seu poder humano. Se tivesse recorrido a seus poderes divinos para tornar mais fácil para si a tentação, não teria obedecido plenamente a Deus como homem. A tentação era empregar seu poder divino para “fraudar” o cumprimento das exigências, tornando a obediência um pouco mais fácil. Mas Jesus, em contraste com Adão e Eva, recusou-se a comer o que parecia bom e necessário para si, optando por obedecer à ordem de seu Pai celestial.
2ª – Lança-te daqui para baixo: A tentação de jogar-se do pináculo do templo era a tentação de “forçar” Deus a realizar um milagre e resgatá-lo de maneira espetacular, atraindo assim grande multidão dentre o povo, sem prosseguir no duro caminho que tinha a frente, o caminho que incluía três anos ministrando às necessidades das pessoas, ensinando com autoridade e exemplificando a santidade absoluta de vida em meio a dura oposição. Mas, de novo, Jesus resistiu a esse “caminho fácil” para cumprimento de seus alvos como o Messias (de novo, uma rota que de fato não cumpriria, de maneira nenhuma, aqueles alvos).
3ª – Se, prostrado, me adorares: A tentação de curvar-se e cultuar Satanás por um momento e depois receber autoridade sobre “todos os reinos do mundo” era a tentação de receber o poder não pelo caminho da obediência vitalícia a seu Pai celestial, mas pela submissão ilícita ao Príncipe das Trevas. De novo, Jesus rejeitou o caminho aparentemente fácil e escolheu o caminho da obediência que levava à cruz.

Essas tentações eram de fato a culminação de um processo vitalício de fortalecimento e amadurecimento moral que ocorreu durante toda a infância e inicio da vida adulta de Jesus, enquanto ele “crescia [...] em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus” (Lc 2.52) e quando “aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu” (Hb 5.8). Nessas tentações no deserto a nas várias tentações que enfrentou durante os trinta e três anos de sua vida, Cristo obedeceu a Deus em nosso lugar e como nosso representante, obtendo dessa forma sucesso onde Adão falhou, onde o povo de Israel no deserto falhou e onde nós falhamos (Rm 5.18-19). Por mais difícil que nos seja compreender, as Escrituras afirmam que nessas tentações Jesus tornou-se capaz de nos compreender e de nos ajudar em nossas tentações. “Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados” (Hb 2.18). O autor prossegue e liga a capacidade de Jesus em entender nossas fraquezas ao fato de ter sido tentado como nós somos (Hb 4.15-16).
Está escrito, cada vez que foi tentado, o Senhor se apoiou na Escritura, dando exemplo fundamental do uso "da espada do Espírito" (Ef 6.17). Jesus usou Dt 8.3, Dt 6.16 e Dt 6.13.

Isso tem uma aplicação prática para nós: em toda situação em que estivermos lutando contra uma tentação, devemos refletir sobre a vida de Cristo e perguntar se não houve situações semelhantes enfrentadas por ele. Em geral, depois de refletir por alguns instantes, seremos capazes de perceber alguns casos na vida de Cristo em que ele enfrentou tentações semelhantes as nossas.

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