A TENTAÇÃO DE JESUS NO DESERTO (Mt
4.1-11)
Por Alessandro Costa Vieira
Há uma relação íntima entre o batismo
e a tentação. No primeiro, Jesus se dedicou ao caminho da cruz. No segundo, o
diabo lhe apresentou meios pelos quais Ele podia efetuar seu ministério sem ir
à cruz.
Conduzido pelo Espírito (Mt 4.1): Foi pela expressa vontade de Deus
que esta crise se produziu na vida de Jesus. Não é que Deus queria ver se Jesus
cairia ou não, mas uma demonstração da impossibilidade da Sua queda, pois como
esta escrito em Hb4.15 que em tudo
foi tentado, porém sem pecado. Ele foi ao deserto porque era preciso enfrentar
esta terrível prova a sós.
Diabo é um dos nomes da serpente primitiva
do Jardim do Éden, que ocasionou a queda do homem (Ap 12.9). É o "príncipe deste mundo" (Jo 16.11), "o príncipe das
potestades do ar" (Ef 2.2).
Nestes dias científicos, alguns acham dificuldade em acreditar na realidade do
mundo dos espíritos, mas não ofende nosso raciocínio o ensino bíblico quanto ao
mundo invisível habitado por inteligências que, duma maneira que ignoramos,
exercem o poder de sugestão sobre nossa mente. Desde Gênesis até o Apocalipse,
a Bíblia ensina que o diabo tem personalidade. Por isso a Bíblia também nos
ensina a resisti-lo (Tg 4.7). A
realidade deste episódio da vida de Jesus mostra que todas as coisas estão sob
controle Divino, que as coisas não acontecem por coincidência ou fatalismos.
Existe um propósito de Deus em tudo que acontece em nossas vidas. Assim também
aconteceu com Jó, o diabo só pôde agir com permissão Divina. Assim Josafá
reconheceu quando os inimigos vinham guerrear contra seu povo (2Cr 20.3-12).
Tendo jejuado (Mt 4.2): No relato de Lucas difere um pouco do de Mateus, mas
não se contradizem, e um completa o outro. Mateus diz que Jesus foi tentado
somente depois do jejum, porém, Lucas diz que foi tentado durante os quarenta
dias (Lc 4.2). Como devemos entender
isso? A verdade é que de fato Jesus pôde ter sido tentado sim por todos os
quarenta dias e que ao fim dos quarenta dias veio as tentações mais poderosas,
que é as que são relatadas tanto por Mateus como por Lucas, lembremos mais uma
vez de Hb 4.15. A necessidade do jejum
não é explicada. Talvez fosse para demonstrar que, quando mais fraco
fisicamente, o Senhor era capaz de enfrentar e vencer o diabo em toda a sua
força. Iremos estudar mais sobre o jejum em Mateus 6.16-18.
A tentação (Mt 4.3-11):
As três grandes tentações veio no momento critico do jejum, após
quarenta dias. E abrangeu três aspectos da vida humana. A concupiscência da
carne, concupiscência dos olhos e a soberba da vida (1Jo 2.16). Devemos notar de modo mais detalhado a natureza de suas
tentações no deserto (Mt 4.1-11; Mc 1.12-13; Lc 4.1-13). A essência
dessas tentações era uma tentativa de convencer Jesus e escapar da dura trilha
de obediência e do sofrimento que lhe fora designada como o Messias. Jesus “foi
guiado pelo[...] Espírito, no deserto, durante quarenta dias, sendo tentado
pelo diabo” (Lc 4.1-2). Em muitos aspectos, essa tentação forma um
paralelo com a tentação enfrentada por Adão e Eva no Jardim do Éden, mas foi
muito mais difícil. Adão e Eva tinham comunhão com Deus e um com o outro e abundancia
de todo tipo de comida, pois receberam ordens só de não comer de uma arvore.
Contrastando com isso, Jesus não tinha comunhão com seres humanos e nem comida
com que se alimentar e, depois de jejuar quarenta dias, estava a ponto de
morrer fisicamente. Em ambos os casos, o que se exigia não era uma obediência a
um principio moral eterno arraigado no caráter de Deus, mas um teste de
obediência pura a uma instrução especifica de Deus. A Adão e Eva, Deus ordenou
que não comessem da arvore do conhecimento do bem o do mal, e a questão era se
obedeceriam simplesmente por Deus lhe ter falado. No caso de Jesus, “guiado
pelo Espírito” por quarenta dias no deserto, ao que parece, ele compreendeu
que era vontade do Pai, pela direção do Espírito Santo, lhe que a tentação
estava encerrada e que ele podia partir. Vejamos as tentações:
1ª – Se tu
és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães. É claro
que Jesus era o Filho de Deus, e é claro que ele tinha o poder para transformar
instantaneamente qualquer pedra em pão. A tentação era intensificada pelo fato
de parecer que perderia a vida, caso não comesse logo. Mas ele viera para
obedecer perfeitamente a Deus, em nosso lugar, e deveria fazê-lo como homem.
Isso significava que tinha de obedecer só em seu poder humano. Se tivesse
recorrido a seus poderes divinos para tornar mais fácil para si a tentação, não
teria obedecido plenamente a Deus como homem. A tentação era empregar
seu poder divino para “fraudar” o cumprimento das exigências, tornando a
obediência um pouco mais fácil. Mas Jesus, em contraste com Adão e Eva,
recusou-se a comer o que parecia bom e necessário para si, optando por obedecer
à ordem de seu Pai celestial.
2ª – Lança-te daqui
para baixo: A
tentação de jogar-se do pináculo do templo era a tentação de “forçar” Deus a
realizar um milagre e resgatá-lo de maneira espetacular, atraindo assim grande
multidão dentre o povo, sem prosseguir no duro caminho que tinha a frente, o
caminho que incluía três anos ministrando às necessidades das pessoas,
ensinando com autoridade e exemplificando a santidade absoluta de vida em meio
a dura oposição. Mas, de novo, Jesus resistiu a esse “caminho fácil” para
cumprimento de seus alvos como o Messias (de novo, uma rota que de fato não
cumpriria, de maneira nenhuma, aqueles alvos).
3ª – Se, prostrado, me
adorares: A
tentação de curvar-se e cultuar Satanás por um momento e depois receber
autoridade sobre “todos os reinos do mundo” era a tentação de receber o
poder não pelo caminho da obediência vitalícia a seu Pai celestial, mas pela
submissão ilícita ao Príncipe das Trevas. De novo, Jesus rejeitou o caminho
aparentemente fácil e escolheu o caminho da obediência que levava à cruz.
Essas
tentações eram de fato a culminação de um processo vitalício de fortalecimento e
amadurecimento moral que ocorreu durante toda a infância e inicio da vida
adulta de Jesus, enquanto ele “crescia [...] em sabedoria, estatura e graça,
diante de Deus” (Lc 2.52) e quando “aprendeu a obediência pelas
coisas que sofreu” (Hb 5.8). Nessas tentações no deserto a nas
várias tentações que enfrentou durante os trinta e três anos de sua vida,
Cristo obedeceu a Deus em nosso lugar e como nosso representante, obtendo dessa
forma sucesso onde Adão falhou, onde o povo de Israel no deserto falhou e onde
nós falhamos (Rm 5.18-19). Por mais difícil que nos seja compreender, as
Escrituras afirmam que nessas tentações Jesus tornou-se capaz de nos
compreender e de nos ajudar em nossas tentações. “Pois, naquilo que ele
mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados”
(Hb 2.18). O autor prossegue e liga a capacidade de Jesus em entender
nossas fraquezas ao fato de ter sido tentado como nós somos (Hb 4.15-16).
Está escrito,
cada vez que foi tentado, o Senhor se apoiou na Escritura, dando exemplo
fundamental do uso "da espada do Espírito" (Ef 6.17). Jesus usou Dt 8.3,
Dt 6.16 e Dt 6.13.
Isso tem uma aplicação prática para
nós: em toda situação em que estivermos lutando contra uma tentação, devemos
refletir sobre a vida de Cristo e perguntar se não houve situações semelhantes
enfrentadas por ele. Em geral, depois de refletir por alguns instantes, seremos
capazes de perceber alguns casos na vida de Cristo em que ele enfrentou
tentações semelhantes as nossas.
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